Chegar ao trabalho é sempre uma experiência única. Mesmo saindo de casa todos os dias na mesma hora e pegando o ônibus da mesma linha, há alguma novidade ao longo do translado. Hoje, por frações de segundos, perdi a primeira leva de ônibus e tive que esperar 10 minutos para que outros viessem. Dez minutos que se transformam em uma eternidade de infinitas observações.
Minha parada fica em frente a um conhecido colégio público do bairro, o EPOM, isso é ótimo, porque me ajuda a ocupar o tempo de espera olhando o comportamento dos alunos. Hoje um grupo de meninas vestindo uma blusa onde estava escrito: “Humanas – Fera EPOM 2008” saiu da escola conversando animadamente. “A gente somos iguais, Camila. Marcamo a mesma resposta!”, constatou uma delas. Acho que ela vai mesmo ficar uma fera com o resultado do vestibular 2008.
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Saí de casa meio estranha, meio sem saber direito porque estava indo. Essa história de trabalhar dois expedientes não me faz bem. Não sou uma pessoa feliz quando tenho a obrigação de acordar cedo e já entender de tudo, encontrar pessoas e fazer perguntas inteligentes. Ser cordial, simpática e esperta de manhã não é nada fácil (ao menos para mim). Mas preciso representar a Câmara, por isso, lá vou eu!
Hoje, em plena sexta-feira, acordei assim, meio estabanada, afim de não ser personagem, só observar. Então peguei o caderno para começar a anotar tudo enquanto o ônibus não vinha. Até que ele chegou. Eu o vi, mas não quis dar sinal de parada. Mesmo assim ele parou e abriu a porta de entrada bem na minha frente para um senhor descer.
Pensei o mais rápido que pude, guardei caderno e caneta na bolsa e subi. PEI! Meti o joelho na porta! Que dor arretada! Ainda bem que tinha um lugar para sentar lá no fundão. Quando me acomodei, fui conferir o local do acidente. Droga! A calça havia rasgado e o sangue estava aparecendo pelo buraquinho. Eca! Não dava pra chegar à Câmara daquele jeito. Logo para uma Sessão Solene do presidente! Mas eu já estava atrasada...
Resolvi ligar para lá. A Sessão ainda não havia começado e ainda por cima o dia estava lindo, seria bom aproveitar um pouquinho do sol. Então corri à loja de roupas mais próxima para comprar uma calça baratinha, mas que fizesse mais frente que aquela arrombada. Todas caras! “Eu não vou dar 50 reais numa calça se tenho dezenas em casa. Vou ficar com a rasgada mesmo. Acho que ninguém vai nem perceber”.
Pronto. Eu estava ainda mais atrasada, mas ao menos não gastei dinheiro à toa. Hora de voltar à Câmara. Oxente! O céu escureceu... “Já está chuviscando e esqueci a sombrinha! Se correr dá tempo”. Que tempo que nada! Aconteceu uma daquelas chuvas descontroladas de pingos pesados e enquanto corria, comecei a sorrir. Lá estava eu, atrasada, de calça rasgada, joelho cortado, e toda ensopada. E foi assim que cheguei à Câmara.
Enquanto tentava disfarçar o estado lastimável colocando uma maquiagem e vestindo um blazer seco, Léo chegou:
- Eita, Mack, massa o visual da calça!
- Homem, dei uma porrada no ônibus e pra completar, tomei o maior toró.
- Que toró? Choveu hoje não.
Olhei para o céu e um lindo dia de sol me olhou de volta.
- Eu não acredito!
Meu Deus... O dia está só começando!