27 fevereiro, 2007

Talvez, uma TPM...


Foto: meu amigo Léo


Há dias em que nem estou. Trabalho, bebo um suco, atravesso a rua. E mesmo assim, não estou. Fico só pensando em onde estaria se...

Se tivesse estudado mais ou arriscado mais. Se tivesse chegado um pouco mais cedo ou esperado mais um instante. Se não tivesse amado tanto, nem temido tanto, nem escrito algumas palavras. Se fosse um pouco menos honesta, um pouco mais ambiciosa, ou mais sisuda. Se tivesse feito diferente, onde diabos eu estaria?

É em dias assim, quando não estou, que dedico o tempo a inventar futuros. Todos impossíveis, fantásticos, mas que cabem perfeitamente na minha história. Nesses dias me transformo numa menina criativa em seu mundo encantado. Sou pura imaginação e nostalgia de falsos momentos.

Às vezes moro em um apartamento grande e antigo, com uma penteadeira cor-de-rosa no canto da sala, almofadas floridas pelo chão, fotos dos amigos pelas paredes e um gato gordo e amarelo dormindo encostado à porta da cozinha.

Em outros dias, estou toda encasacada, usando um gorro vermelho e um lindo cachecol de fios dourados. Viajo de trem pela Europa acompanhada de um grande amor. Estamos de férias.

Também posso dar aulas numa universidade. Sou poliglota e doutora em comunicação. Há anos não vou ao Brasil. Quem sabe ano que vem não levo as crianças para visitarem a avó?

Eu poderia ter sido tantas mulheres. Na verdade, seria uma só, mas as opções são diversas. Claro, SE eu tivesse feito alguma coisa diferente no caminho... Sei de cada atitude que me levaria a esses destinos, de cada lugar onde poderia estar. Mas na hora não sabia! Queria ser livre e não me comprometer. E sou! Mais livre impossível! E agora?

Agora queria estar no aeroporto. Talvez embarcando para Salamanca, ou Madri, ou Berlim. Queria ir longe! Mas ainda estou aqui. Uma jornalista, solteira, meio sem teto, com alguma grana sobrando, mas morrendo de medo de me comprometer com meu futuro. Morrendo de medo de perder o que nunca conquistei. Vivendo de ilusão...

É, definitivamente, hoje, eu ainda não cheguei!

23 fevereiro, 2007

No lugar


Eu estou aqui
Fazendo sei lá o quê
Vivendo a paz de nós dois
Confiando mais em mim
E um pouco mais em você

Estou aqui sem esperar
Caminhando junto
Curtindo os passos que nunca demos
E que agora chegam leve
Como quem segue o rumo certo (será?).

Só sei que estou aqui
Sem saber se deveria ficar
Sem saber (ainda) se é o meu lugar
Sem ter a menor idéia da cara que deve ter esse lugar.
Na verdade, quem disse que eu preciso ter um lugar?

Eu, simplesmente, estou!
Onde quis estar todos esses dias
Onde quero estar hoje
E amanhã...
Amanhã, quem sabe?...

Quero estar enquanto houver verdade
Enquanto ouvir sorrisos
Enquanto os olhos brilharem
O beijo for doce
E o abraço, o melhor lugar do mundo.

Quero ficar por perto
Por mais um reveillon
Por mais um carnaval
Por mais um ano, ou sempre...
Bem aqui, onde estou!

06 fevereiro, 2007

Mas é Carnaval... que alegria!


Foi no dia 9 de fevereiro de 1907 que, pela primeira vez, o ritmo contagiante que marcava o Carnaval do Recife ganhou nome: FREVO, porque fazia ferver a multidão nas ruas.

E apesar de a palavra comemorar 100 anos, está longe de ser considerada antiga. Ao contrário, ela renova-se a cada Carnaval, enquanto arrasta os foliões pelas ruas, trocando passos ao som do ritmo que esquenta os pés e o corpo.

É só chegar fevereiro e as cores tomam conta do Recife para esperar por mais uma festa inesquecível. E não há como não ser! Costumo dizer que Carnaval, até quando é ruim, é bom! Espero por ele o ano inteiro, é a chance de ser quem eu quiser, de realizar todos os sonhos, de desconhecer os limites, de amar o mundo, de poder não dar satisfação e ainda estar tudo bem. Porque é Carnaval!

Eu vivo o frevo. A orquestra de metal, a de pau e corda. Sigo e me esqueço. Sigo levada pela multidão e carregando minha alegria. Como fada, arqueira, colombina, espanhola, vilã ou heroína. Vivo a sede de mais um frevo, de mais um passo, de mais um gole, de mais um beijo.

Vivo o encanto dos olhares infantis, de fantasias que viram verdade por um dia. Vivo o aperto das ruas de Olinda, o sol na cabeça, a roupa ensopada, a decoração do Recife Antigo, a curiosidade por trás de uma máscara.

Vivo a rapidez de uma festa que tem quatro dias (ou cinco) pra ser o que quiser, mas não se contenta em terminar na Quarta-feira de Cinzas. Ela nos acompanha o resto do ano, em cada lembrança, cada novo amigo, cada reencontro, nas magias que só acontecem no Carnaval.

Não sei frevar, mas pulo, sacudo os pés sem parar, do jeito que a música mandar. Sábado uma menina me abordou no meio da prévia dos Amantes e disse: “Menina, tu freva muito!”. Eu estava bêbada, mas não pude esquecer o comentário. Apenas sorri, dei um cheiro nela - que levou um gole da minha vodka - e saí “frevando”. Coisa boa!

Então vi que frevar é mais que ser um passista de sombrinha. E é por isso que ele virou a marca do Recife. Porque não tem regra, mas tem alma. Igualzinho a todo mundo nessa cidade: incansável, criativo, sonhador.

Nos outros dias sou Mack, jornalista, romântica, chocólatra, faladeira. Mas em fevereiro não tenho nome. Sou Lily, Joana, Conxita, sou a Glória e sua Amante. Tenho a alma de mulheres sem pudores, que respiram música e euforia, e deixam sua marca por onde passam.

Por isso, nem adianta chamar! Mas, se quiser, pode me seguir. E nesse caminho criar histórias, deixar lembranças, tornar realidade a fantasia de mais um Carnaval. Porque pra descobrir o segredo de completar 100 anos com tanta vida, é preciso viver!


Nos vemos pelo mundo!