26 setembro, 2007

Hoje não. Amanhã.



Das coisas que amo na vida, poucas me garantem um bom futuro. Ir à praia e ao cinema; viajar; sambar até de madrugada; comer muito chocolate.

Ficar em casa também é um presente. Lá posso colorir minhas caixinhas; assistir aos filmes do lado de Riva até perceber que ele dormiu e que eu tenho que arrastá-lo ao quarto; ouvi-lo tocar violão; ler descompromissadamente, pelo mero prazer de descobrir novos lugares no universo; fazer música em dupla; fazer amor, dormir.

A questão é que os prazeres não dão dinheiro (ao menos para mim). E se eu quiser uma vida boa de verdade, talvez deva mudar os hábitos. Fazer como minhas amigas e devorar apostilas de concurso. Criar algum projeto incrível. Estudar para um mestrado ou quaisquer dessas coisas grandiosas, que dão orgulho de se contar.

Essa semana arrisquei, abri mão das coisas boas para estudar e fiz meu primeiro concurso para jornalista. O resultado foi bem pior do que imaginava. Tudo bem... Não dava pra conseguir de primeira.

De qualquer forma, resolvi investir. Pra mim o futuro está sempre tão distante... Não dá nem pra considerar, mas, por algum motivo, estou pensando diferente agora. Sei nem por onde começar a mudança. Abandonar hábitos gostosos pela obrigação de cuidar de um amanhã incerto até no fato de existir.

Talvez seja essa a lição que deva tirar da fase que estou vivendo. É hora de proteger meu futuro. Olhar para frente com mais cuidado e responsabilidade, decididamente, não vai ser simples. Por isso, espero ter paciência, obstinação e, se possível, um tempinho extra para os pequenos prazeres.

25 setembro, 2007

Outono


Ela não se move.
E se não o faz é por, simplesmente,
Não saber onde está
Nem para onde ir.
Jogada, folha seca,
Vaga no ritmo do vento.
Tempo parado é inércia de espírito
E o dela está quieto.

Mas o corpo frágil ainda sonha
Em, qualquer dia desses,
Acordar diferente.
Virar bicho faminto
Com desejos e necessidades de bicho
Sair em busca do alimento, do abrigo.
Da alegria, do risco.

Nascer folha é não saber
Existir sem pensar no amanhã
Sem emoção, sem planos, covarde.
Ser folha é como não ser viva.
Por isso, inveja os bichos.
E sonha em criar pés ou asas.

21 setembro, 2007

Um tempo


"Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo".


Guimarães Rosa

04 setembro, 2007

Presentes de família

Um dia inteiro de céu cinza no Recife. A chuva não deu trégua e eu, pelo vidro da janela da sala, olhava atravessado para ela que não parava de cair. Acho que o mundo inteiro já sabe que sou avessa à chuva. Claro que compreendo sua importância, mas não gosto, ora! É um sentimento meio infantil, de birra mesmo, quando percebo que o dia não vai ser quente e sim, cinza.

Talvez seja porque more aqui e, desde pequena, tenha sido obrigada a ligar uma noite chuvosa a um dia seguinte de morte nos morros. De uns tempos para cá isso até vem acontecendo com menos freqüência, mas não foi o suficiente para me libertar do desgosto pelas tempestades.

Mas não é sobre isso que quero escrever. Falei da chuva para contar que foi sob um toró impiedoso que fui à casa de voinha hoje. Ela insistiu que passasse lá porque tinha uns presentes para me dar. Fui, ganhei meus presentes e vim para casa lamber as crias.

Eram dois livros. O primeiro, cheirando a novo, é a mais recente publicação sobre Teorias da Comunicação de Massa. Estava precisando dele para estudar, mas não tinha grana para comprar. Voinha investigou, catou o livro pelas livrarias do Recife e me deu. Como ela conseguiu tamanha façanha, ainda não sei, mas amei a surpresa. Minha véia é muito linda mesmo, além de impossível quando quer conseguir alguma coisa.

Abri meu novo livro e tratei de iniciar a história de sua vida. É uma espécie de batismo que tenho o hábito de fazer com meus livros. Coloco a data e a circunstância em que chegou a minhas mãos e até o sentimento que tenho por ele.

Anos depois, quando dou de cara com algum perdido em antigas gavetas, leio o batismo e logo retorno àquele momento. Sem isso, minha memória me trairia e eu perderia mais uma boa lembrança.

Terminado o ritual, segurei o segundo livro, uma edição de 1993, de Violetas na Janela (uma publicação espírita ditada por Patrícia à Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho). Disse a minha mãe que queria relê-lo e como ela havia perdido o dela, foi ao sebo buscar outro. O livro custou cinco reais e apesar da capa um pouco gasta, ele está em ótimo estado. Quando o abri, não pude deixar de sentir um misto de emoção e cumplicidade: ele também foi batizado! E que bela cerimônia:

Oginha, este livro não é um simples livrinho espírita. É para que você comece a entender e acreditar que a vida não termina com a morte do corpo físico, e que através da morte do corpo que realmente começamos a viver, amar e entender o verdadeiro sentido da vida e o porquê das coisas que não entendemos ou insistimos em não querer ver ou aceitar. Para você, Oginha, com todo amor e carinho de sua mãe. Em 03-10-98. Te amo. Mainha

Na capa, o nome da felizarda escrito em caneta cor de rosa: Geórgia Carolina.

Depois de tudo isso, preciso acrescentar ao batismo de meu novo livro que, ele chegou em meio à chuva, mas acompanhado de alegria.