25 janeiro, 2007

Todo dia


Quem já viu?

Me apaixono todo dia. Por quem tem voz grossa, fala bonito, usa um bom perfume ou um terno bem cortado. Nunca por cabeludos. Advogados, engenheiros; sisudos ou dados demais; com barba, sem barba; com olhos ternos ou sinalizadores de perigo. Me apaixono por gente, porque gente interessante nunca vai faltar! Que bom!

Me apaixono por velhos. Por cada uma das rugas, as quais fico tentando decifrar se são fruto de sol ou de noites mal dormidas. Me encanto com a forma de caminhar, a segurança mantida por uma bengala, os passos calculados, o ritmo paciente. Paro tudo só pra contemplar os gestos lentos, o jeito de falar, a desinibição, a sabedoria. Me apaixono pelos sábios, sonhando em um dia chegar lá, virar gente grande, amadurecer.

Me apaixono por palavras, algumas de gente que, às vezes, nem conheço. Versos sobre amores semelhantes aos meus; histórias conhecidas, contadas de forma diferente; rimas ricas ou prosas sem métrica. Folheando livros ou páginas na internet. Em todo canto a palavra me comove, e esse afeto logo vira mais uma paixão.

São paixões passageiras. Na maioria das vezes, acabam caindo no esquecimento. Tornam-se infinitamente especiais naquele instante, quando o tempo parece parar em nome da contemplação, quando o instante é o mais belo de toda uma vida. No instante seguinte, surge outra paixão, outra palavra, outro caminhar, outro cheiro. E tudo já se foi...

Mas nem sempre é assim. Há paixões renovadas diariamente. Carrego comigo uma assim. Ela nasce em cada encontro, cada olhar, tocar de lábios, roçar de pele, em cada amanhecer. E não morre com a distância, nem quando outras surgem. Ao contrário, me acompanha enquanto me apaixono, fugaz, tantas e tantas outras vezes.

Me apaixono todo dia. Uma paixão renascida, fortalecida, imortal; que não perturba, não tira o sono nem a moral; que deixa no corpo o calor suficiente para esquentar o sangue, e a serenidade necessária para suportar a saudade. Uma paixão companheira, que deseja ser renovada todo dia.

24 janeiro, 2007

Batuque


Adoro palco! Desde cedo soube ter nascido para o mundo. Jamais seria dessas pessoas que se infurnam em um laboratório para fazer estudos, ou do tipo que vive avaliando a teoria dos outros para formular ainda mais teorias. Não! Meu negócio é a prática.

Sou especialista em gente. Em deixar gente feliz, admirada, confusa, mexida. Gosto do poder de transformar pessoas. Transformar pessoas tristes em alegres; descrentes, em esperançosas; amargas, em verdadeiros docinhos. E mesmo não sendo uma pessoa com muitos talentos, sempre encontrei um jeito de fazer a diferença.

Sim, tenho cá o meu charme, mas não sei cantar, sou meio desengonçada para dançar, e tocar algum instrumento, então! Houve um tempo em que pensei ser impossível! Sempre gostei mesmo de escrever, e tinha uma especial cara de pau para fazer qualquer coisa que pedissem sem sentir um pingo de vergonha.

E foi assim que resolvi mexer com as pessoas por meio das palavras e do teatro. Deu certo. Todo mundo se emocionava e se divertia. Mexer com gente é como brincar de ser Deus, ou melhor, é saber que só se faz isso com a autorização Dele. Por isso, me orgulho tanto.

Ultimamente resolvi arriscar um pouco mais. Atravessei uma alfaia em meus ombros e saí por aí, encantando de crianças a velhos. É fantástico perceber o sorriso nascer de faces curiosas. O som não é harmônico, nem suave, nem comum. Mas alguma coisa no sangue de todo brasileiro faz a nossa memória genética dar sinal quando ouve o bendito batuque.

Nossos antepassados estão ali, nossa história, e melhor, nosso presente. A felicidade de sacodir mesmo sem saber dançar, de entrar na brincadeira, de não pagar ingresso, de seguir e parar quando bem entender. Enquanto vejo esse monte de gente acompanhar um batuque, esqueço das dores no corpo e dos calos nas mãos. Esqueço de tudo!

Esse fim de semana, passando em frente a uma pousada, o grupo recebeu a companhia de um turista europeu, vestido de roupão de veludo vinho, fumando um charuto e calçando uma sandália de couro. Sem falar dos bebês, dos idosos, dos curiosos... cada um com seu encanto, com sua paixão...

E eu aqui, feliz, por ver isso tudo e pelo grandiosos poder de transformar as pessoas.


Sem isso, nada faria sentido.

18 janeiro, 2007

Entre amigas


Estrada
Engenho
Cachoeiras
Gente simples

Cidade do interior

Pitanga no pé
Canções antigas
Pensamento distante

Sossego
Vinho seco
E uma promessa:
Abstrair o que não tem jeito!

Bonito pode não ter mudado nada em nós, mas nos deu dias lindos!
Uma forma perfeita de começar o ano.

17 janeiro, 2007

Renascer


Foto: Riva Spinelli


O ano não foi fácil.

Sim. Essa parte todo mundo já sabe. Ouvi até falar – não sei se por mero consolo – que não foi fácil para um monte de gente. “O pior ano da minha vida”, alguns disseram. Eu concordo. Claro que aos 28 não tenho lá uma grande referência de vida, mas que esse foi o pior... isso foi!

Enfim. O importante é que acabou!

Pra mim, 2006 pareceu despedir-se desde dezembro. Assim que senti o calor daquela energia boa vinda do nascimento de Cristo, minhas dores do ano foram passando. O pé ainda estava quebrado, a tensão de ficar ou não no emprego ainda me fazia pensar em ir embora do Recife, a mágoa ainda tirava o sono, as recordações causavam pontadas no final da espinha. E mesmo assim, alguma parte de mim insistia em ser melhor, em fazer melhor! Melhor que qualquer feito do ano, que qualquer sentimento.

Foi aí que pensei sobre o perdão.

“Uma ação sublime, que nos coloca aos pés de Deus”, me disse hoje uma amiga. Esse perdão estava longe de fazer bem ao “ser” perdoado, mas tinha o poder de me salvar! Salvar minha alma, meu corpo e, principalmente, o resto dos meus dias. Por meses e meses nem consegui respirar de tanta mágoa. Mas no dia que resolvi encará-la sem medo, descobri que ela era mesmo filha do amor. Um amor tão sincero e intenso, que não me deixava motivos para ser triste. Então perdoei. Perdoei a mim, por ter me permitido morrer um pouco. Perdoei a “ele”, que tem tanta sede de viver.

Só não sei se as pessoas vão me perdoar...

Por isso foi tão difícil dizer onde e com quem queria estar na virada do ano. Uma decisão tão simples e tão complexa! Racionalmente, deveria ficar ao lado de minhas amigas e de minha mãe, incansáveis nos momentos em que eu mesma já não tinha mais força. Mas eu sou feita de emoção e o amor fala mais alto. Sabia bem qual o único lugar onde estaria feliz no Reveillon.

E é para lá que fui!

Foi para ele que dei meu último olhar de 2006 e o primeiro de 2007. Os últimos beijos, gozo e desejo de “amor e verdade”, e os primeiros de um novo ano. Ao seu lado comtemplei as últimas estrelas de um ano escuro, e o primeiro nascer do sol de uma fase de esperanças. Comecei o ano assim, feliz! Mas, sobretudo, leve.


Me leve ano. Me leve...

05 janeiro, 2007

Achada. Perdida.

Foto: Riva Spinelli


É em paz que me sinto aqui.
Enquanto meu braço enlaça tua cintura,
meu peito encosta em tuas costas
e meu nariz respira teu pescoço.

Aqui esqueço de tudo e vivo nós dois.
Nossos olhares e beijos em sorriso.
Vivo o que é de verdade.

É essa paz que justifica minha persistência,
que fortalece minha esperança,
que aumenta a tolerância.

É essa paz que me mantém ao teu lado,
que me dá a sensação de estar no caminho certo.
Ah! Paz insana!
Tão insana quanto eu!