24 março, 2006

Luzes da vida


de manhã vem o sol,
atravessa a janela e esquenta o rosto
invade o quarto
e me faz levantar.


lentes escuras para encarar as ruas
luzes das telas e dos flashes
trabalho, diversão, informação
lá se vai o dia.


a tarde chega
e, antes de ir,
como quem quer me agradar,
deixa um tom rosa no céu.


a cor do amor se transforma
e, quando a noite vem,
velas iluminam os cômodos
perfumam a casa.


mais tarde, apago o fogo
e acendo a lanterna: vermelha!
pra colorir minha paixão

e iluminar meus sonhos.

19 março, 2006

Cada um com a sua...

Do Ás ao Rei me mandou essa corrente:

"Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs aviso do 'recrutamento'. Ademais, cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blog".

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Preciso ressaltar que esse post é, antes de tudo, uma prova de amor. Sou absolutamente contra correntes e jamais moveria uma palha para dar continuidade a qualquer uma delas. No entanto, como o convite partiu do meu marido lindo, e consegui um tempo livre para escrever, aqui estão listadas cinco das minhas manias. Para não quebrar minha tradição anti-correntes, não vou indicar nenhum blog a fazer a mesma coisa. Logo, essa brincadeira não passa daqui, se depender de mim.

Manias

Fiquei um tempão pensando em cinco manias exclusivas e até pensei que não iria encontrar. Depois lembrei que sou fixa demais para não acumular manias. O simples fato de ser “fixa” me faz ter mania de quase tudo, como sempre ir aos mesmos bares e restaurantes e, quando possível sentar na mesma mesa, sorrir para o velho garçom amigo e dizer: o de sempre.

Tenho mania de tomar cajarosca no Empório, caipirosca no Garrafus, de só beber vodka com guaraná diet, comer bifun no Xangai, sanduíche de ricota e tomate seco no Bugaloo e tempurá no Tepã. Essas manias são minhas, só minhas. Juntando todas, já passaram de cinco.

Mas como podemos diferenciar manias de hábitos? Tudo listado acima, por exemplo, percebo como hábitos. Manias são aquelas esquisitas, como roer unha até doer, jogar "snake" no celular nas horas vagas, pisar primeiro com o pé direito quando levanto da cama ou entro em algum lugar importante, beijar a medalhinha em meu pescoço toda vez que saio ou volto pra casa, e dizer “ê” pra passar o tempo e minimizar a chatice de tarefas repetitivas como procurar nomes numa agenda de celular, digitar ou procurar textos no computador, mexer panelas ou arrumar o guarda-roupa. Só que nenhuma dessas manias é só minha. Com exceção do “ê”, que deve ser feito apenas por mim e Adriana (de quem adquiri a mania), todas as outras devem fazer parte da rotina de milhares de pessoas.

Ah! Vou tentar pensar em algumas parecidas comigo, deixar de conversa mole e começar logo essa lista.

1 - Uma mania que me segue desde a época da faculdade é a de sempre – eu disse SEMPRE – ter à mão bloco e caneta. Isso vale para o dia-a-dia e se estende à praia, festas de casamento e formaturas ou a um simples encontro com a galera no bar (onde o kit é ainda mais imprescindível).

Assim, posso anotar tudo de fantástico que vejo e ouço para lembrar depois, já que minha memória não consegue fazer isso sozinha.

2 - Uma mania estranha, mas que não consigo deixar, é de dormir completamente em cima da cama. Explico. Quando deixo alguma parte de corpo pra fora, seja a mão, o braço ou a pontinha do pé, tenho a impressão de que algum ser do mal vai surgir debaixo da minha cama e puxar o membro “pendurado” – e eu junto, claro! - para algum lugar terrível e sem volta.

Apesar de ter consciência da impossibilidade disso acontecer, não consigo me sentir à vontade pra pegar no sono enquanto não estou completamente protegida e, de preferência, cobertíssima pelo lençol.

3 - A tecnologia nunca poderia ficar de fora da lista de manias de uma pessoa comum, e minha mania tecnológica é a de girar o mouse duas vezes em sentido horário sempre que pego nele.

Eu não havia percebido, mas desde que minha chefe observou e me contou, fico atormentada, querendo me controlar pra não fazer e não consigo! É involuntário. Eu fico digitando, digitando... e quando vou pegar no danado do mouse, rodo ele de novo. Acho que isso deve ter surgido em algum desses micros onde o mouse estava imundo e eu precisava sacudir pra ele pegar no tranco. Bem, é só uma suposição. Seja lá qual for a real origem da mania, o importante é que ela está aqui, e não consigo mudar.

4 - Ah! Eu converso MESMO com os bichos na rua. Claro que há os contatos mais freqüentes, como cachorros e vacas. Mas se outras espécies derem bobeira, vou pra junto também.

É mais forte que eu. Se eles passam do outro lado da rua, já estou atravessando pra dar um cheirinho ou pelo menos alisar a cabeça do bicho. Independente de raça, tamanho ou estado de limpeza, eu vou me aproximar. Por uma questão de sorte, ou empatia natural, nenhum nunca avançou. Acho que eles gostam da minha voz especializada em diálogos com animais. Quem menos gosta dessa mania é o meu marido que, quando não consegue evitar o “agarrado”, já vai gritando: na boca não!!!!!

5 - E por falar nele... Aí está minha maior mania: o meu Ás, o meu Rei.
Mania de coçar sua cabeça até ele dormir e de procurá-lo ao meu lado assim que acordo. Mania de sentir saudade quando ele fecha a porta ou se despede, e de mandar mensagens de “te amo” no meio da tarde. Mania de fazer carinho e cócegas, de beijar manso e cheirar o cangote. Mania de fechar os olhos quando ele encosta no meu rosto e de sorrir ao ouvir sua voz ou nome. Mania de acreditar que ele é o amor da minha vida e que tudo isso será eterno. Mania de achar ele o melhor músico, o melhor escritor, o melhor marido, o melhor cozinheiro, o melhor contador de histórias e o maior dos “enrrolões”, porque me faz acreditar de verdade nisso tudo, e amá-lo ainda mais.

17 março, 2006

Dia Internacional do Luto

Há 10 dias, entre uma matéria e outra, preparei um texto para o Dia Internacional da Mulher. Mas esse negócio de ser mulher é tão complicado, que acabei não tendo tempo de postar. Se ser jornalista já é uma missão e tanto, ser blogueira, orkuteira, colega, esposa, dona de casa, filha, neta, irmã, amante, companheira e sexy ao mesmo tempo é ainda mais difícil!

Resultado: o tal 8 de março passou, literalmente, em branco nesse blog fuleiro. Mas parece que foi só aqui mesmo... No resto do mundo todos os pequenos - e grandes - espaços foram reservados para elogiar, parabenizar e fazer discursos exaltando as conquistas femininas e a importância da mulher na sociedade. Ridículo!

Explico. No último dia 8, não me achei com a menor vontade de comemorar. Meu desejo era mesmo o de protestar. Em todos os lugares as mulheres são preteridas (mas isso os homens nunca vão perceber). Até parece que as civilizações pensaram suas culturas para reduzir nossa participação social. Aqui no Recife, onde vejo de perto a discriminação, a situação não está nada boa.

No dia em que todo mundo fingia respeitar as mulherada. A cidade amargava 72 assassinatos de mulheres só esse ano! A maior parte, vítima de um parente próximo ou do "companheiro". Uma vergonha! Outra característica das vtimas e que elas são, em sua maioria, negras e pobres.


Os homens negros e pobres aqui também morrem cedo. Eles começam no crime ainda crianças. Praticam furtos, consomem e traficam drogas. Logo acabam sendo mortos pela polícia, por adversários e até pelos comparsas.

As mulheres negras e pobres seguem um outro caminho. Elas freqüentam a escola, reprovam pouco e só se afastam dos estudos para terem seus filhos, cujos pais, negros e pobres, estão envolvidos em algum crime. Por não terem formação profissional, acabam ficando em casa, cuidando das crianças - uma nova a cada ano - e sendo sustentadas, muito precariamente, por seus homens.

Mas no dia em que eles enchem a "cara de cana" ou voltam pra casa de mau humor, é nelas que descontam todas as insatisfações e ansiedades. Eles as molestam, as violentam, as espancam. Quando têm sorte, elas se recuperam, e rezam quietas para o rompante demorar a acontecer de novo. Mas 72 mulheres do Recife não tiveram tanta sorte.


Elas tentaram fazer diferente. Não participaram do tráfico de drogas, não cometeram assaltos, não mataram ninguém. Apenas amaram seus homens e pariram seus filhos. Ainda assim, morreram cedo. Cedo demais...

......

Enquanto recebi, no dia 8, uma rosa vermelha, pensei nessas mulheres, mortas pelo filho da mãe com quem dormia todo dia! A surra que levou ou a bala que atravessou seu corpo antes delas morrerem devem ter doído bastante. Mas não tanto quanto ver a mão que já a acariciou, ser levantada contra seu rosto.

Nós, mulheres estudadas, cultas e independentes, jamais entenderemos as razões que fazem alguém permanecer em casa sob ameaça de vida. Talvez porque nunca tenhamos passado fome, ou por termos uma família protetora, ou uma grana guardada para imprevistos. Talvez até por conhecermos nossa força de trabalho e carregarmos um bom currículo, que logo nos abriria novas portas. Elas não têm nada disso!

Os números que justificam as comemorações do Dia Internacional da Mulher falam de conquistas como o direito à educação e à cidadania, ao voto e à carteira de motorista. Eles destacam as cientistas, juízas, senadoras, pilotas, mecânicas. E daí? Podemos ser o que quisermos. Afinal, temos um cérebro. Ridículo seria tentar nos manter, ao longo da evolução social, submissas como animais domésticos.

Não posso deixar de avaliar tamanha resistência à inserção da mulher nos espaços de poder, como medo da nossa soberania. Para mim, fora o detalhe dos órgãos sexuais, poucas coisas diferem homens e mulheres. Por isso, não classifico minha postura como feminista, mas sim, igualitária. Mulheres e homens podem ser igualmente sábios, capazes, fortes, persistentes e dedicados. Mas há entre nós um grande diferencial: a sensibilidade. O principal defeito de fabricação de muitos "cabras-macho" por aí.

O que eu sei é que dificilmente mataríamos o homem com quem vivemos porque tomamos um pórre ou estamos em TPM. O que eu sei é que não faríamos acordos ilícitos com o dinheiro público e dormiríamos em paz uma noite inteira. O que eu sei é que até as próprias mulheres ainda não conseguiram impôr sua importância social. Uma pena...

Tenho um marido lindo e carinhoso, um emprego estável, uma família unida e amorosa, grana para farras e bobagens. Tenho uma vida maravilhosa, mas faço parte de menos de 10% das brasileiras. Enquanto não tiver feito alguma coisa pra mudar isso, não terei nada a comemorar, nem merecerei parabéns.

02 março, 2006

Ressaca

Quarta-feira de Cinzas
De sol e sossego
A calmaria do povo
O despertar de um sonho
de fadas e heróis

Quarta-feira de Pó
Pra baixar a poeira
Descansar o corpo
Pesar os pecados

Quarta-feira de Brisa
De sombra e folhas secas
Despedidas e pés calejados

Dia de apagar as luzes
Varrer os confetes
Guardar as fantasias
Recolher os tambores

Quarta-feira de Saudade
De fim de ilusão
E começo de espera
Falta um ano pra o Carnaval...