Ela é linda. Em seu caminhar manso, em seus olhos brilhantes, no sorriso sempre discreto. Mas tamanha delicadeza não a descreve com perfeição. Apesar de pequena e esguia, seu porte e até a forma como senta ou carrega a bolsa já demonstram altivez e parte de sua força. Não lembro de ter conhecido nada nem ninguém que me emocionasse mais que a presença dela: Dona Carmelita.
Para qualquer outro, mais uma avó deseducadora e irresponsável como tantas outras em um subúrbio do Recife. Para mim, o mais forte impulso; o melhor exemplo; a educação reta, mas divertida; a compreensão larga; a sabedoria personificada; o maior do amor. Eu, essa cria por ela moldada.
Desde criança sempre soube que quando não conseguisse mais administrar meus problemas, voinha encontraria uma forma de interceder e resolvê-los. Procurava não abusar, mas sei que dei bastante trabalho e lhe privei de várias horas de sono.
Hoje, mulher feita da matéria dela, até tento esconder minhas dores para poupá-la, mas a danada descobre. Outro dia, uma cartomante me disse que sou bruxa, “como sua avó”, arrematou. Não duvido! D. Carmelita é de uma sensibilidade assustadora - nada lhe escapa - além de deter o poder de ler meu olhar mesmo quando minha boca tenta mentir.
É assim que ela continua me salvando todo dia. E se, às vezes, me acho forte por apoiar seu braço para que não caia na rua, logo vejo que isso não é nada, porque é ela quem segura meus tombos, cada vez maiores.
Tenho comigo o que tantos mortais sonham em ter a vida inteira: um super-herói particular, um anjo que me recebeu como mãe, de braços e corações abertos, que nasceu para fazer de mim uma mulher melhor.
2 comentários:
Mack.
Sinto saudades.
Eu não tenho mais meus avôs.
Sinto falta.
Beijos.
Também não tenho os outros. Só voinha, que já vale por mil!
Beijo, valeu a visita!
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