08 outubro, 2007

Dela

D. Carmelita e Guilherme, o 3º. de cinco bisnetos

Ela é linda. Em seu caminhar manso, em seus olhos brilhantes, no sorriso sempre discreto. Mas tamanha delicadeza não a descreve com perfeição. Apesar de pequena e esguia, seu porte e até a forma como senta ou carrega a bolsa já demonstram altivez e parte de sua força. Não lembro de ter conhecido nada nem ninguém que me emocionasse mais que a presença dela: Dona Carmelita.

Para qualquer outro, mais uma avó deseducadora e irresponsável como tantas outras em um subúrbio do Recife. Para mim, o mais forte impulso; o melhor exemplo; a educação reta, mas divertida; a compreensão larga; a sabedoria personificada; o maior do amor. Eu, essa cria por ela moldada.

Desde criança sempre soube que quando não conseguisse mais administrar meus problemas, voinha encontraria uma forma de interceder e resolvê-los. Procurava não abusar, mas sei que dei bastante trabalho e lhe privei de várias horas de sono.

Hoje, mulher feita da matéria dela, até tento esconder minhas dores para poupá-la, mas a danada descobre. Outro dia, uma cartomante me disse que sou bruxa, “como sua avó”, arrematou. Não duvido! D. Carmelita é de uma sensibilidade assustadora - nada lhe escapa - além de deter o poder de ler meu olhar mesmo quando minha boca tenta mentir.

É assim que ela continua me salvando todo dia. E se, às vezes, me acho forte por apoiar seu braço para que não caia na rua, logo vejo que isso não é nada, porque é ela quem segura meus tombos, cada vez maiores.

Tenho comigo o que tantos mortais sonham em ter a vida inteira: um super-herói particular, um anjo que me recebeu como mãe, de braços e corações abertos, que nasceu para fazer de mim uma mulher melhor.

2 comentários:

Antonio Ximenes disse...

Mack.

Sinto saudades.

Eu não tenho mais meus avôs.

Sinto falta.

Beijos.

Mack disse...

Também não tenho os outros. Só voinha, que já vale por mil!

Beijo, valeu a visita!