04 setembro, 2007

Presentes de família

Um dia inteiro de céu cinza no Recife. A chuva não deu trégua e eu, pelo vidro da janela da sala, olhava atravessado para ela que não parava de cair. Acho que o mundo inteiro já sabe que sou avessa à chuva. Claro que compreendo sua importância, mas não gosto, ora! É um sentimento meio infantil, de birra mesmo, quando percebo que o dia não vai ser quente e sim, cinza.

Talvez seja porque more aqui e, desde pequena, tenha sido obrigada a ligar uma noite chuvosa a um dia seguinte de morte nos morros. De uns tempos para cá isso até vem acontecendo com menos freqüência, mas não foi o suficiente para me libertar do desgosto pelas tempestades.

Mas não é sobre isso que quero escrever. Falei da chuva para contar que foi sob um toró impiedoso que fui à casa de voinha hoje. Ela insistiu que passasse lá porque tinha uns presentes para me dar. Fui, ganhei meus presentes e vim para casa lamber as crias.

Eram dois livros. O primeiro, cheirando a novo, é a mais recente publicação sobre Teorias da Comunicação de Massa. Estava precisando dele para estudar, mas não tinha grana para comprar. Voinha investigou, catou o livro pelas livrarias do Recife e me deu. Como ela conseguiu tamanha façanha, ainda não sei, mas amei a surpresa. Minha véia é muito linda mesmo, além de impossível quando quer conseguir alguma coisa.

Abri meu novo livro e tratei de iniciar a história de sua vida. É uma espécie de batismo que tenho o hábito de fazer com meus livros. Coloco a data e a circunstância em que chegou a minhas mãos e até o sentimento que tenho por ele.

Anos depois, quando dou de cara com algum perdido em antigas gavetas, leio o batismo e logo retorno àquele momento. Sem isso, minha memória me trairia e eu perderia mais uma boa lembrança.

Terminado o ritual, segurei o segundo livro, uma edição de 1993, de Violetas na Janela (uma publicação espírita ditada por Patrícia à Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho). Disse a minha mãe que queria relê-lo e como ela havia perdido o dela, foi ao sebo buscar outro. O livro custou cinco reais e apesar da capa um pouco gasta, ele está em ótimo estado. Quando o abri, não pude deixar de sentir um misto de emoção e cumplicidade: ele também foi batizado! E que bela cerimônia:

Oginha, este livro não é um simples livrinho espírita. É para que você comece a entender e acreditar que a vida não termina com a morte do corpo físico, e que através da morte do corpo que realmente começamos a viver, amar e entender o verdadeiro sentido da vida e o porquê das coisas que não entendemos ou insistimos em não querer ver ou aceitar. Para você, Oginha, com todo amor e carinho de sua mãe. Em 03-10-98. Te amo. Mainha

Na capa, o nome da felizarda escrito em caneta cor de rosa: Geórgia Carolina.

Depois de tudo isso, preciso acrescentar ao batismo de meu novo livro que, ele chegou em meio à chuva, mas acompanhado de alegria.

10 comentários:

Antonio Ximenes disse...

Fiquei comovido com tua maneira de escrever... eu realmente viajei... consegui enxergar o cinza do céu pela janela.

Eu também não gosto de chuva... mas por outros motivos... eu ando muito de ônibus e a pé... e odeio de morte os malditos guarda-chuvas... rsrsrs

Quando você quiser visite meu blogue... "O Pitoresco"... eu já te linkei lá.

Abração

Anônimo disse...

Ei! To passando pra retribuir a visita que vc fez ao si,pessoas. Comecei a ler aos poucos e to achando tudo muito legal por aqui.

Parabens, viu?

E volte sempre ao mundo dos Fenomenos. É pra se sentir em casa mesmo! hihihihi


beijos

Dante Accioly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dante Accioly disse...

Dante Accioly disse...
Olha, fiquei tocado com esse texto. Não sei se pela sensibilidade da voinha ao te comprar o livro; da tua mãe ao ir ao sebo; da mãe de Oginha ao presentear a filha com uma lição de vida. Não. Acho que fiquei tocado pela tua sensibilidade ao juntar tudo isso numa história bela de verdade. Sob o batismo dos pingos de chuva (que eu adoro!). Parabéns pelo texto.

P.S.: Estamos cheios de amigos em comum, hein?

Mack disse...

Sim, Dante, muitos amigos e estou amando tantas visitas. Voltem sempre que a casa é nossa.

P.S.: Com a umidade de Brasília não me admira que você goste da chuva. Mas aqui na terra dos morros e da falta de saneamento a história é beeem diferente...

Beijos em todos!

Antonio Ximenes disse...

Oi... Mack,

Tem novo post lá no Pitoresco.

Aparece lá.

Abração.

Antonio Ximenes disse...

Mack.

Onde está você !?!?

RS

Tô aqui de novo te convidando lá pro Pitoresco.

Aparece.

Abração.

Anônimo disse...

gostei de achar esse teu cantinho. gostei muito.
beijos
silvinha

betita disse...

Como a vida é maravilhosa!
As pessoas acham a gente, e a gente é quem ganha com isso.
saudades.
um cheiro.

Anônimo disse...

Esse livro é maravilhoso. Não sou espírita , mas simpatizo com algumas coisas do espiritismo. e o livro traz uma mensagem muito linda. Tbém acredito que há um depois.

Adorei seu blog.