08 julho, 2007

Marília de Dirceu

Foto: meu amigo Léo


Marília adora comédias românticas e tem pavor a sangue em qualquer aspecto, seja ao vivo ou pela TV. Ela treme com imagens mais fortes e tem pesadelos quando se impressiona com alguma cara feia.

Dirceu adora filmes de guerra e ação. Exatamente aqueles onde ela morre de sono quando a briga se estende por mais de dois minutos. “Tão cansativo...”. Mesmo assim, entram em acordo, e são capazes de passar horas se divertindo e se emocionando com as histórias que os outros contam.

Marília adora madrugadas. Para ela, essa é melhor hora pra tudo! Conversar, beber, pensar, escrever, amar... De dia é praticamente uma inútil. Antes das 9h, de tão descoordenada, é incapaz de formular uma frase inteligente ou de sequer encaixar uma chave na fechadura.

Dirceu costuma acordar cedo, mesmo quando não tem compromissos. O sol chega e lá está ele, todo disposto a fazer o dia começar. Em compensação, sempre antecipa o término das noites e costuma pegar no sono antes de Marília ensaiar seu primeiro bocejo.

Mesmo diante de algumas pequenas diferenças, é ao lado um do outro que se sentem felizes. Outro dia – enquanto Marília estava toda perfumada, fatalmente vestida com sua lingerie mais sexy, e Dirceu roncava ao seu lado sem nenhuma cerimônia – pensava que essa é mesmo a vida que escolheria entre qualquer outra opção. Era esse o retrato de fiel de um conto de fadas na cabeça dela: paz, estabilidade, tranqüilidade, carinho.

Lenine tocava no DVD, chovia muito desde a manhã e o mormaço a obrigava a manter uma fresta da janela aberta. O travesseiro já estava úmido, o sono não encontrava um cúmplice e dava espaços para as lembranças brincarem. Lembrou do tempo que ficaram separados. Ele entregou-se à bebida, às farras e às mulheres (nada mal...). Ela caiu nos braços da loucura. Dias e noites sem um norte, madrugadas de música, embriaguês e solidão (uma merda de vida).

Talvez ele não merecesse outra chance, mas Marília achou que merecia, e deu a si mesma o presente do perdão. Assim, perdoou não a ele, por haver mentido, mas a ela própria, por haver perdido a sanidade. Pediu também perdão a Deus por tanto ter se maltratado, mal dizido e odiado, por ter fraquejado como nunca. E, quando se sentiu forte o suficiente para largar as muletas, soube que nada que não viesse de Deus a derrubaria.

E desde o dia em que o ódio vestiu de novo a roupa cor de rosa do amor, tudo mudou pra melhor. E agora, passar um dia inteiro de chuva dentro de casa e ouvir Dirceu ressonar ao seu lado na cama à noite, é exatamente o que ela espera. Ele também fez novas escolhas. Deixou de dormir embalado pelo álcool, entre pernas diferentes a cada noite, e permitiu que apenas Marília evocasse seu sono fazendo cafuné e o velasse até que o dela chegue (nada mal...).

No final, todos querem “a sorte de um amor tranqüilo”.

Nenhum comentário: