14 agosto, 2007

Ciúmes


O quanto ela resistiu, ninguém sabe. O fato é que sentiu um misto de pavor e demência quando percebeu que havia entregado os pontos.

Estava de bobeira, passando o tempo na livraria quando o viu de relance caminhando entre as prateleiras. Quanta coincidência! Se soubesse o teria chamado para almoçar. Como não lembrava de nada importante para conversar, terminou de ler com cuidado a orelha do livro que tinha em mãos. Resolveu levá-lo. Antes de ir ao caixa, foi ao encontro do amigo para um cumprimento cordial.

Ele estava de costas e não a viu chegar, mas ela viu bem quando ele arrancou verozmente com o olhar a calça jeans da loira que passou na sua frente. Naquela visão, mil lembranças. Os olhares e beijos trocados sem compromisso, a insegurança, a amizade e uma ira inexplicável. Um queimor com ares de traição lhe deixou o rosto rubro e a alma com sede de vingança. A razão se despedia do seu corpo a cada passo dado em direção a ele que, no lugar do cumprimento, recebeu um beliscão.

A ira transformou-se em vergonha, que se traduziu em sorriso no rosto dos dois. Ele, porque sabia o motivo da repreensão. Ela, porque não acreditava que havia protagonizado uma cena de ciúmes. Logo com ele!

E numa fração de segundos, como quem precisa esconder-se do perigo, ela se foi. Abandonou o livro pelo caminho e saiu dali sem dar chance de qualquer aproximação. Ele continuou no mesmo lugar, a vendo ir embora e sorrindo, como quem saboreia uma conquista, grande vencedor da batalha dos sexos.

Um comentário:

Germana Accioly disse...

Que texto mais sensível, mack! a vida é isso mesmo. feita de encontros e desencontros.