20 dezembro, 2006
Para sempre
À Giu e Lu.
Porque eu acredito na eternidade no amor, e vocês assim serão.
"Tudo quanto na vida eu tiver
Tudo quanto de bom eu fizer
Será de nós dois
Uma casa num alto qualquer
Com um jardim e um pomar se couber
Será de nós dois
E depois, quando a gente quiser
Passear, ir pra onde entender
Não importa onde a gente estiver
Estaremos a sós
E depois, quando a gente voltar
O menino que a gente encontrar
Será de nós dois
E de noite quando ele dormir
O silêncio do tempo a fugir
Será de nós dois
E por fim, quando o tempo fugir
E a saudade nos der de nós dois
E a vontade vier de dormir
Sem ter mais depois
Dormiremos sem medo nenhum
Pois aonde puder dormir um
Podem dormir dois"
Canção de nós dois - Vinícius de Moraes
13 dezembro, 2006
Canção da partida
Não. Não quero mais saber de ti
Nem de seus passos
Nem de seus risos
Nem quero ouvir de tuas saudades
Não. Não quero mais me ver em ti
Sobre o teu peito
Sob teu corpo
Entrelaçada em teus lençóis
Não. Não quero mais lembrar de nós
De nossa casa
De nossos olhos
Do tempo em que eles eram só...
Só do outro,
Só felizes
Só verdade
E eternidade.
Não. Já fui embora, já esqueci
Não sonho mais
Não quero mais
A tua voz a me embalar
É. Estou seguindo por aí
Uma outra estrada
Que talvez
Me leve a um lugar de paz.
06 dezembro, 2006
Conselhos de fim de ano...
Em meio à ventania
Manter-se firme
Deixar os cabelos balançarem
O corpo ser levado
Mas não cair!
Em meio à tempestade
Buscar refúgio
Algum ponto seco
Algum ponto a salvo
E quando não der mais
Render-se à chuva
Sentir a água no rosto
Abrir os olhos para assistir ao espetáculo
Sem temer o frio, nem a gripe.
Em meio à duvida
Ficar vazio
Esperar o tempo abrir
O destino agir
As soluções chegarem em forma de sonho
Entre conversas fiadas
Numa mesa de bar
No enredo de um filme bobo
Ficar vazio e esperar...
Em breve, tudo vai mudar.
Talvez eu tenha férias forçadas a partir de janeiro.
Alguém tá afim de uma prainha?
04 dezembro, 2006
Ainda sobre o amor...
A música do dia e mais uma definição sobre essa história de amar...
O velho e a flor
Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor
Assim falou:
O amor é o carinho
É o espinho que não se vê
Em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor
O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia.
É uma alegria e, de repente,
Uma vontade de chorar...
O velho e a flor
Por céus e mares eu andei
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber o que é o amor
Ninguém sabia me dizer
E eu já queria até morrer
Quando um velhinho com uma flor
Assim falou:
O amor é o carinho
É o espinho que não se vê
Em cada flor
É a vida quando
Chega sangrando
Aberta em pétalas de amor
O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia.
É uma alegria e, de repente,
Uma vontade de chorar...
Vinícius de Moraes
O que é, o que é?
O textinho abaixo não é meu. É de um grande amigo, Mauh Spinelli (esse ao meu lado na foto), mas que merece seu espaço hoje. Bem hoje!
"aí descobri, que amor não é nada disso...
que amor é outra coisa...
que amor não queima, nem congela, nem machuca...
amor não trai, nem usa, nem ignora...
amor te da certeza, te dá caminho, te dá a mão...
amor te faz dormir tranqüilo, te faz acordar feliz...
amor não tira o ar, nem os espaços, nem os momentos..
não te tira o amor próprio, nem os amigos...
o amor chega pra completar,
e, se um dia ele acaba, em nenhum momento te deixará incompleto...
esse "amor" que dói é ilusão, é doença, é tanta coisa...
só não é amor!!
e só depois que descobri isso, é que me senti livre para seguir..."
01 dezembro, 2006
Segredos...
Algumas músicas ainda não ouço.
Alguns lugares, não freqüento.
Algumas histórias, prefiro nem contar.
No mais, tudo bem.
Já acordo sem idéia fixa.
Já durmo (de madrugada, é claro!).
As lembranças passam por mim, mas não ficam.
E vêem sozinhas, sem a saudade.
Essa parece ter encontrado um refúgio no passado.
Em breve, será como tantas outras:
Mera recordação.
Já as músicas e os lugares, sempre terão uma referência,
Porque algumas coisas nunca mudam
Insubstituíveis, dizem...
Mas a saudade sempre muda de cheiro, de endereço, de cor.
A saudade é volúvel...
Sorte a nossa!
29 novembro, 2006
Do meu jeito
Às vezes escrevo com sorrisos nos lábios
Outras, com lágrimas nos olhos.
Franzindo a testa
Levantando as sobrancelhas
Sorrindo sozinha
Com vontade de chorar
Tudo no mesmo dia
Numa harmonia de gestos e sentimentos que só eu sei
Mas não explico, só conto!
O jeito de escrever denuncia a tristeza, a solidão,
A esperança de fazer diferente, a alegria de me surpreender.
Tem minuto que a vida é boa
E no seguinte, já não tem mais tanta graça assim.
E é nesse passinho manso que andam meus escritos,
Com o mesmo ritmo do coração:
Instável, confuso, adolescente!
Nostálgica
Às vezes a saudade aperta...
Geralmente, quando a solidão vira a marca registrada do dia.
Meses e meses assim, sem ter com quem dividir histórias, compartilhar planos.
Tarefa difícil para quem nunca esteve sozinha por mais de uma semana.
Agora o silêncio é rotineiro.
A noite é companheira.
E as músicas promovem quase um diálogo.
Todos passam tanto tempo ao meu lado quanto os cadernos e as canetas.
Os olhos pequenos arregalam e apertam conferindo se alguém chegou.
Ninguém!
Não! Não é tão mau assim!
Me suportar sozinha também é me saber um pouco mais auto-suficiente, reflexiva, crítica e, principalmente, exigente com quem pode invadir o meu espaço.
A parte ruim é não ter para quem me dar...
Então vou guardando sorrisos, contos, carinhos, desejos e poemas.
Como quem guarda um presente raro à espera do dono.
Sinto saudade deste “dono”, cuja face, desconheço.
Dos afagos que não recebi, dos beijos que não lhe dei.
Sinto saudade dele e de tudo de bom que sou, quando não sou sozinha.
20 novembro, 2006
Sem escolha
Entre todas as cores do mundo, escolhi você.
Entre todas as combinações de verdes, amarelos, vermelhos e azuis.
Você foi o eleito!
A cor dos seus olhos, dos pêlos, da pele.
Exatamente você.
Entre todos que já cruzaram o meu caminho.
Desde o primeiro encontro até ontem.
Desde o primeiro olhar à mais recente despedida.
Desde o primeiro beijo à saudade que sinto dele.
Apenas você foi o escolhido.
E me escolheu, pra fazer de mim uma morada,
Um corpo que te carrega por onde vou, por todo o dia,
Do primeiro ao último pensamento.
Você está.
Um carinho infinito.
Uma espera paciente.
O olhar mais terno.
Meu melhor sorriso.
Tudo seu.
Tanto, tanto, que nem sei mais onde esconder.
E fica tudo estampado no rosto,
Marcado nos gestos,
Levando meus passos sempre na direção dos seus.
Entre tantos sentimentos, o maior me escolheu.
A soma da admiração com o afeto,
Da cumplicidade com o companheirismo,
Da amizade com a paixão,
Da paz com o desejo.
O amor!
Esse sentir que nunca foi feliz, por que nunca foi inteiro.
Um sentir que por ser meu - e não nosso - mais parece uma criança que pede colo.
Mas que também sabe ser batalhador, persistente, descarado, sem vergonha de se mostrar.
Um sentir raro e belo,
Mas cansado de ser tão sozinho...
16 novembro, 2006
Enquanto
10 novembro, 2006
Senta que lá vem história
Quinta-feira, primeiro dia do feriadão. 2 de novembro, 11horas.
Manhã muito quente (como vêm sendo todas esse mês). O sol começava a ferver o quarto e acordei. Tentei levantar, mas a cabeça ainda girava de tanta caipirosca ingerida na Toca da Joana, no dia anterior. Show de Bu Moraes e mais um (des)encontro nada romântico com o cachimblema. Sim, mas voltando à manhã de quinta, tentei de novo tirar a cabeça do travesseiro, lentamente. Talita acordou e ficou pentelhando pra gente ir logo porque as duas mães já estavam na praia nos esperando há horas!
Boa Viagem lotada. Dificuldade pra estacionar. Cadeiras todas ocupadas. Era quase uma da tarde quando conseguimos sentar na frente do Recife Palace pra jogar dominó. Nem pensei em tomar cerveja! "Traz uma água, moço!"
Era lua cheia e o mar sabia muito bem disso. "Tava virado", como diria minha avó. A maré estava enchendo e já havia carregado nossas sandálias umas cinco vezes. "Seguuuura!!!" Lá da minha cadeirinha, ficava olhando o povo se acabar debaixo d'água. Altos caldos. Todo mundo saia feito cachorro que acabou de levar um banho, sacudindo a cabeça, desorientado. "Melhor não entrar..."
Na areia, depois de ganhar três partidas de dominó, finalmente deitei pra descansar. Mas a prima de Talita começou a ter uma reação alérgica à água oxigenada que tinha acabado de pôr no corpo, e pediu para eu ir com ela até um chuveiro. "Preciso tirar logo isso!". Andamos um tempo e nada de chuveiro. "Melhor entrar na água. Eu te seguro. A gente agüenta", eu sugeri.
Gente!!!! A água não chegou nem no joelho e já começou a nos derrubar. Foi tanta da queda. Caí de queixo, de barriga, de bunda. Levantava e caía de novo, na mesma hora. Um desespero. "Vamos tentar sair!!!! Me segura!!!!" E quem disse que o mar deixava? Puxava a gente de volta pelas pernas. Foi aí que fui sugada. Parecia uma roupa de seda dentro da máquina de lavar em modo completo! Eu nem pisei no chão, mas senti muito bem quando o meu dedo do pé tocou na batata da perna. Dor do ca-ra-lho!!!!!
Assim que a onda baixou, falei pra prima de Talita. "Quebrei meu pé. Tenta me puxar daqui...". Que nada, ainda levei umas três arrancadas de Iemanjá. Até que consegui chamar um homem, que me carregou para a areia.
Depois disso, uma passada em casa para tirar os dois quilos de areia que estavam no biquíni e no cabelo, e logo segui rumo ao Esperança.
Diagnóstico: Tornozelo quebrado.
Tempo de castigo com gesso: dois meses.
Ontem voltei lá para uma reavaliação, morrendo de medo de entrar na faca. Mas o doutor reduziu o prazo do gesso para 45 dias e nem precisou colocar pino no meu pezinho. Espero estar nova antes do dia 8, para poder subir o Morro e agradecer a Nossa Senhora da Conceição pelo presente de um tornozelo quebrado.
Esse bendito pé tá doendo que só. Tem hora que vejo estrelas. Tô andando de muletas o dia inteiro. Uma dificuldade pra tudo, principalmente porque agora moro em um duplex, né? Mas eu sei que esse era o único jeito de reduzir o meu ritmo. Eu tava demais! Paquera demais, cada um mais alma sebosa que o outro (e eu deixando eles por perto). Cachaça demais! Chegando em casa às 5h da manhã, dia sim outro também! E ainda por cima, pensando que sofrer por ser traída era a pior coisa que poderia me acontecer.
Agora percebo que não é não! E só nessas situações extremas é que a gente enxerga com clareza as besteiras que andamos valorizando.
Então é isso. Pé quebrado. Muitos filmes locados todas as noites. Segunda temporada de Lost como grande companheira. Visita dos verdadeiros amigos (sim, porque os de farra vão esperar eu ficar boa para poder tomar uma). Trabalhando menos na Câmara. Saindo nada! Praticamente um retiro espiritual! E todo o resto no mesmo lugar de sempre...
Sem tirar, nem pôr.
08 novembro, 2006
Coisas do destino...
Essa semana fui forçada a pensar na força do acaso e em todos os elementos capazes de mudar nossa vida em fração de segundos.
Somos resultado de uma sucessão de “ses”, de cada escolha - por mais banal que ela seja - e também da combinação de cada passo dado com passos dos outros sete bilhões de habitantes da terra. A avaliação está matemática demais para uma jornalista, mas não dá pra ser diferente.
Hoje preciso divagar sobre a razão de estar aqui, de castigo em cima de uma cama por dois meses. Serão pelo menos 60 dias sem tocar tambor, pegar ônibus, correr da chuva, sambar na sexta-feira, usar o banheiro do primeiro andar da Toca, descer as escadas para atender ao telefone, lavar a sola do pé direito, tomar banho de mar, ir ao vucu, à auto-escola...
Ah! É coisa demais para abrir mão sem racionalizar um motivo para tudo isso acontecer justamente comigo, exatamente agora, precisamente no meu tornozelo!
Mas como calcular o acaso? Como controlar o destino? Como identificar uma coincidência? Certos acontecimentos estão além do controle humano, por mais atentos que estejamos aos sinais do Universo.
Feitiçaria, olho grande, destino, predestinação, falta de sorte, carma, acaso, coincidência, castigo, osso fraco, teimosia, lerdeza. Sei lá qual foi a razão! Só sei que não interpretei os sinais, e aqui estou!
Deve haver um motivo para eu estar naquele exato lugar quando a onda deu nó de marinheiro com meus dedos e minha canela. “Mas eu nunca vi ninguém quebrar o pé no mar!” É, talvez a probabilidade seja de uma em um milhão. A mesma de um raio cair dentro de um estádio de futebol lotado e atingir a cabeça do vendedor de flau (coitado). É de uma em um milhão, mas como vive repetindo Talita, “quando acontece com a gente é de 100%”.
Eu poderia ter acertado os números da Mega Sena, escolhido a cartela premiada do Pernambuco dá Sorte ou cruzado com Gianechini essa semana, enquanto ele curte a maior dor de cotovelo. Eu poderia ter feito um milhão de coisas no primeiro dia do meu feriadão. Inclusive viajado de moto mundo a fora, se meu novo ex-paquerinha não fosse tão relapso e desatento aos sinais.
Mas nããããão... Eu estava bem ali, no meio daquela onda! Pois é, acontecimentos estranhos são mais comuns do que imaginamos, e são eles que nos fazem refletir os detalhes irrelevantes da nossa vida.
..................
A verdade é que estou tratando isso como um desejo do Universo de reduzir o meu ritmo. Menos encontros com um cachimblema que vem tirando meu juízo, menos álcool consumido, menos possibilidades de pecar contra a carne... hehehehe E também uma chance de estudar coisas que deixei para traz desde que surtei, há três meses. Um tempo para mim, meus livros, minhas músicas, meus textos, minhas pinturas e, principalmente, para peneirar as pessoas que me amam. Vai ser importante ver quem vai ficar ao lado dessa aleijadinha no ano que vem, quando eu voltar a andar e sambar.
....................
Quer saber se eu estou p... da vida?
Claro que não! Tão mesmo é adorando ver minha coxa definida de tanto pular feito saci!
26 outubro, 2006
Escrito nas estrelas
11 outubro, 2006
Retalhos
Pedaços de Paulo Leminski,
pedaços dessa Brisa
que está doida pra parar,
criar raízes,
virar flor!
”Ler pelo não, quem dera!
Em cada ausência, sentir o cheiro forte
do corpo que se foi,
a coisa que se espera”
“Isso de querer
Ser exatamente
Aquilo que a gente é
Ainda vai nos
Levar além”
"Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha".
"Distraídos venceremos"
10 outubro, 2006
Enlaçados
Simplesmente A-D-O-R-O casamento de amigos!
ADORO!!!!
E quando ele acontece nas circunstâncias do enlace de Ivanzinho e Carol, torna-se ainda mais inesquecível.
À beira da praia
Noite de lua cheia
Pés descalços
Cercada de grandes amigos
Cerimônia celebrada por gente como a gente, dessas que sabem tudo da história do casal, dos momentos felizes, do primeiro beijo, das pequenas picuinhas...
Emoção descontrolada
Muitos raspa-raspas de morango misturados com doses infindáveis de vodka
Abraços apertados
Pés enfiados na areia
Cantar músicas antigas
Dançar até cair
Até sentar de cansaço
E deitar a cabeça em um ombro
E se revigorar em carinho...
Casamento bom é assim:
Distribui tanto, tanto, tanto amor, que cada um pega um pouquinho.
Eu peguei a minha parte!
E ADOREI!!!!!
...............................................
Aos noivos, que cada palavra dita diante da Lua se eternize e tenha o dom de contagiar, sempre!
02 outubro, 2006
Nó na garganta (e no peito)
Triste. Não tenho outra palavra para o dia de ontem senão essa.
Muito triste um dia de eleição para presidente transcorrer assim: apático; gelado; sem cumplicidade ou companheirismo; sem estrelas distribuídas; sem bandeiras vermelhas sacudidas com orgulho; sem esperança.
Sou de uma geração filha da democracia. Assisti, desde criança, a alegria de meus pais pela conquista do direito de escolher os representar de seu país. Acompanhei minha avó às urnas, na época em que ela marcava um X na cédula ao lado do nome de Arraes e eu mesma colocava o papel na caixinha. Corri pela praia do Pina com uma bandeira na mão, cantando “Lula lá, brilha uma estrela”, e fiz o mesmo pelo Marco Zero, há quatro anos, quando, finalmente, ajudei a elegê-lo.
Naquele dia chorei muito. Um choro contido por anos e que agora podia sair para eu respirar novos ares, os ares de uma nova sociedade, de um novo jeito de fazer política e governar. O tão sonhado “do povo e para o povo” acabava de se tornar realidade e eu era protagonista dessa mudança. Cada brasileiro o era! “Vamos mostrar para essa velha turma da direita como é que o PT trabalha”, bradei de peito inchado de tanta alegria e orgulho.
Hoje tenho a triste sensação de que nada deu certo... Meus sonhos foram roubados e parece que meu dinheiro também. O dinheiro, graças a Deus, nunca tive muito, por isso nem sinto falta. Mas dos sonhos eu faço questão. É deles que sobrevivo. São eles quem trilham meus caminhos, colorem meus objetivos, me fazem encarar cada novo dia. Sem meus sonhos não sou inteira. Sem eles, não suportaria! E lendo algumas manchetes de jornais os vi me dar as costas.
Pela primeira vez não soube em quem confiar, em quem apostar minhas esperanças. Pela primeira vez cogitei não usar estrelas esse ano, não votar em Lula, abrir mão daquele direito que sempre comemorei tanto! Mas meus limites largos não valem apenas para os relacionamentos amorosos, e foram eles que me fizeram repensar. Então, vesti meu traje vermelho, encarei quase uma hora de fila na minha sessão sempre lotada e cliquei 13 tantas vezes foram possíveis.
Já perdoei falhas piores que a de não saber. Não quero julgar se Lula é culpado ou não. Definitivamente, não creio que seja minha função. Meu voto não foi para o réu público Lula, foi para o presidente que, mesmo quando ninguém acreditava ser capaz, colocou o Brasil numa situação bem mais confortável do que estava quando ele assumiu o cargo: mais emprego, mais investimentos em programas sociais, menos miséria, menos dívida externa, menos risco país, menos inflação, mais confiança dos investidores, mais indústrias, mais reforma agrária. Foi essa conta que assegurou o meu voto.
Mas hoje, com Lula sendo levado a disputar o segundo turno com alguém tão inexpressivo e despreparado quando Alckmin, o povo quis mostrar que fez uma outra conta: mais corrupção e acordos ilegais descobertos, mais envolvidos ligados ao PT e ao Governo, mais podridão num lugar considerado limpo, menos ética, menos confiança. Triste...
Triste o povo brasileiro – tão cheio de esperança e de vontade de provar que acertou na escolha, há quatro anos – ser obrigado a puxar a orelha do presidente por ele não ter feito o dever de casa. Triste nosso voto ter sido de protesto e não de fé. Triste as ruas caladas e sem cor, um dia inteiro sem abraços e sorrisos. Na hora em que todos deveríamos comemorar o direito de usar a voz, fizemos um luto mudo, cumprimos o nosso dever de cidadão como quem é obrigado. Tristes!
Provavelmente Lula será reeleito no dia 29. Mas espero que tenha compreendido o recado das urnas. Não queremos mais um mito, essa imagem já se desfez depois de tantas acusações. Queremos um chefe de Estado que, além de manter o país equilibrado social e economicamente, também o faça politicamente. Queremos um presidente de alma boa, mas, sobretudo, de mãos limpas, porque queremos apertá-las, para ter a certeza de que fazemos parte do mesmo time.
Muito triste um dia de eleição para presidente transcorrer assim: apático; gelado; sem cumplicidade ou companheirismo; sem estrelas distribuídas; sem bandeiras vermelhas sacudidas com orgulho; sem esperança.
Sou de uma geração filha da democracia. Assisti, desde criança, a alegria de meus pais pela conquista do direito de escolher os representar de seu país. Acompanhei minha avó às urnas, na época em que ela marcava um X na cédula ao lado do nome de Arraes e eu mesma colocava o papel na caixinha. Corri pela praia do Pina com uma bandeira na mão, cantando “Lula lá, brilha uma estrela”, e fiz o mesmo pelo Marco Zero, há quatro anos, quando, finalmente, ajudei a elegê-lo.
Naquele dia chorei muito. Um choro contido por anos e que agora podia sair para eu respirar novos ares, os ares de uma nova sociedade, de um novo jeito de fazer política e governar. O tão sonhado “do povo e para o povo” acabava de se tornar realidade e eu era protagonista dessa mudança. Cada brasileiro o era! “Vamos mostrar para essa velha turma da direita como é que o PT trabalha”, bradei de peito inchado de tanta alegria e orgulho.
Hoje tenho a triste sensação de que nada deu certo... Meus sonhos foram roubados e parece que meu dinheiro também. O dinheiro, graças a Deus, nunca tive muito, por isso nem sinto falta. Mas dos sonhos eu faço questão. É deles que sobrevivo. São eles quem trilham meus caminhos, colorem meus objetivos, me fazem encarar cada novo dia. Sem meus sonhos não sou inteira. Sem eles, não suportaria! E lendo algumas manchetes de jornais os vi me dar as costas.
Pela primeira vez não soube em quem confiar, em quem apostar minhas esperanças. Pela primeira vez cogitei não usar estrelas esse ano, não votar em Lula, abrir mão daquele direito que sempre comemorei tanto! Mas meus limites largos não valem apenas para os relacionamentos amorosos, e foram eles que me fizeram repensar. Então, vesti meu traje vermelho, encarei quase uma hora de fila na minha sessão sempre lotada e cliquei 13 tantas vezes foram possíveis.
Já perdoei falhas piores que a de não saber. Não quero julgar se Lula é culpado ou não. Definitivamente, não creio que seja minha função. Meu voto não foi para o réu público Lula, foi para o presidente que, mesmo quando ninguém acreditava ser capaz, colocou o Brasil numa situação bem mais confortável do que estava quando ele assumiu o cargo: mais emprego, mais investimentos em programas sociais, menos miséria, menos dívida externa, menos risco país, menos inflação, mais confiança dos investidores, mais indústrias, mais reforma agrária. Foi essa conta que assegurou o meu voto.
Mas hoje, com Lula sendo levado a disputar o segundo turno com alguém tão inexpressivo e despreparado quando Alckmin, o povo quis mostrar que fez uma outra conta: mais corrupção e acordos ilegais descobertos, mais envolvidos ligados ao PT e ao Governo, mais podridão num lugar considerado limpo, menos ética, menos confiança. Triste...
Triste o povo brasileiro – tão cheio de esperança e de vontade de provar que acertou na escolha, há quatro anos – ser obrigado a puxar a orelha do presidente por ele não ter feito o dever de casa. Triste nosso voto ter sido de protesto e não de fé. Triste as ruas caladas e sem cor, um dia inteiro sem abraços e sorrisos. Na hora em que todos deveríamos comemorar o direito de usar a voz, fizemos um luto mudo, cumprimos o nosso dever de cidadão como quem é obrigado. Tristes!
Provavelmente Lula será reeleito no dia 29. Mas espero que tenha compreendido o recado das urnas. Não queremos mais um mito, essa imagem já se desfez depois de tantas acusações. Queremos um chefe de Estado que, além de manter o país equilibrado social e economicamente, também o faça politicamente. Queremos um presidente de alma boa, mas, sobretudo, de mãos limpas, porque queremos apertá-las, para ter a certeza de que fazemos parte do mesmo time.
29 setembro, 2006
Encourados
Tantas vidas seguem entre a seca, os arbustos, as cores quentes do Sertão.
Entre conversas na porta de casa, cigarros de palha, padroeiros e orações.
Com meninos brincando na terra e homens tirando dela o sustento.
Plantando e torcendo pra chover.
Montando em boi, sangrando e curtindo.
Sobrevivendo da força da fé.
A minha segue por aqui.
Vermelha, da cor da eleição.
Tranqüila, mas com alguns espirros.
Com pouco trabalho, pouco dinheiro e muitos amigos.
Sem uma grande paixão, mas com grandes fantasias.
Sobrevivendo da força da fé.
22 setembro, 2006
Olhos nos olhos
Bem naquele dia, quando eu estava vestida de jeans e camiseta, cabelos presos, sem nenhuma maquiagem e com um chinelo velhinho no pé, ele apareceu.
Poucas vezes esteve por ali. Há meses não o via pelo Recife. Na verdade, fui até Garanhuns à sua procura, e nada! Mas, agora, ele estava lá: lindo, enorme, doce com sempre.
Restava apenas que me visse. Sim, claro! Precisava me ver de novo, saber que estou mais livre que uma brisa de setembro em fim de tarde.
A poesia de Vinícius enebriava a noite mais que o álcool em nossos copos. A flauta ditava o ritmo. A emoção contagiava a todos. Foi então que ele me viu! E viu mesmo!!!!
Depois, os sorrisos diziam mais do que a conversa mole, e os olhos brilhavam...
...com a esperança de poder recomeçar.
"Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar.
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar"
Tom Jobin
.....................................................Tive que usar o poeta. Porque nada mais traduziria o hoje, além de palavras que já foram escritas...
Enfim, em paz
Eu ando assim, feito o mar desta tarde.
Tão constante, tranqüilo e paciente
Que deixa a impressão de estar parado.
As ondas passeiam lentas,
Sem querer ser percebidas
Como quem cansou de demonstrar poder
E agora revelam serenidade em um perfeito balé.
Elas sabem que em algum momento do dia
Um passante mais atento vai olhá-las em calmaria e,
Talvez por isso, ouse tocá-las.
Porque só os aventureiros e loucos enfrentam o mar bravio
E o tempo de aventura acabou.
Como o mar, guardo meus segredos e artimanhas,
Meu sal, meus perigos.
Mas tenho esse jeito manso
Um convite a tempos de paz.
15 setembro, 2006
13 setembro, 2006
Bons sonhos
12 setembro, 2006
A Excelência do Amor
Pra não ficar baixo astral
Nem parecer tão triste
Um pouco dos sorrisos do fim de semana.
A festa começou em Bezerros, mas terminou em Gravatá, na casa da família Moraes. Forró bom, samba melhor ainda, cerveja até dar uma dor, amigos, amigos, amigos! Farra e emoção - muita emoção.
Também, com um sermão desse, não tem como não pensar na vida...
... e no amor!
“O amor é paciente
O amor é bondoso
Não é invejoso
Não é arrogante
Nem orgulhoso.
O amor tudo perdoa
Tudo crê
Tudo espera
Tudo suporta.
O amor nunca passará.
Agora três coisas permanecem:
A Fé, a Esperança e o Amor.
Mas a maior delas é o Amor”.
Para Alessandra e Gerrá, que sejam felizes para sempre!
Amém!
Um tanto só
Penso na vida.
Choro a vida.
Uma vida que não está fácil
Nem feliz
Nem sã.
Uma vida de pensamentos distantes
E angústias vizinhas
Sem paz
Sem companhia
Sem lugar no mundo.
Mas que eu sigo
De olhos vendados
Tateando
Esbarrando
Tropeçando.
Escrevo a vida
Invento histórias
Vivo mentiras
Construo fantasias
E destruo parte da solidão.
Pinto a vida
Apago as lembranças
Borro os desejos
Desvio das verdades
E me deito mais uma noite...
... com a saudade.
31 agosto, 2006
Sentidos
O Recife cheira a suor, que escorre nos rostos de baixo do sol quente, que ensopa as camisas dos trabalhadores. Cheira a esgoto nos becos, a cana em botecos, a comida caseira nas esquinas e a laranja cravo em tabuleiros.
Recife tem cheiro de terra molhada e mato verde. Cheiro de castanha, de palmeira, de pinhão e jaqueira.
Recife cheira a escape, chourume, pneu e lixo queimado. Sufoca com fumaça de automóvel e alivia com a de nebulizador. Cheira a melancia e sal em Boa Viagem, a peixe em Brasília Teimosa e a lama na Rua da Aurora.
Recife cheira a arruda e flor do campo, a óleo na bênção de São Félix, a caldo de cana no Mercado de São José. É feito de igrejas e pontes, de todas as cores, levando a qualquer lugar, a algum recanto de Deus.
Minha cidade tem cheiro de cocada, galeto na brasa e churrasquinho, de abacaxi na praia, milho e amendoim. Tem tambores de maracatu ensaiando para o carnaval e grito de “é um real” e “ingresso sobrando eu compro”.
Recife é pipoca na porta do São Luiz, é cerveja no Marco Zero, é papo cabeça no Cine PE e música boa no Seis e Meia.
Recife é escolha: Cabeleireiro ou barbeiro. Mac Donalds ou Mercado da Encruzilhada. Boi Preto ou Seu Vidal. É prédio alto e morro mais alto ainda. Vida boa em Casa Forte, e ainda melhor em Casa Amarela.
Recife tem cheiro de cola de sapateiro nas mãos dos pivetes. Aceno de “não” a cada sinal, vidro fechado, ar ligado, tensão nas ruas, ultrapassar sinal vermelho. É medo e vontade de fugir. Mas também é lindo.
No sorriso banguelo das crianças, na garra do povo, no passo paciente dos velhos. É lindo no céu azul limpinho, na fé em ganhar no Pernambuco da Sorte, nas sacolas de feiras lotadas de frutas, no jogo de cintura dos ambulantes, na emoção do Arruda lotado.
Recife é tudo que vejo, tudo que sou, a cor da minha pele. Aquilo que me faz mais feliz, mais forte, mais apaixonada. É o lugar onde quero acordar a cada manhã, e talvez, pra sempre.
28 agosto, 2006
Nova estação
Meu aniversário
Algumas caipiroscas
Grandes amigos
Burburinho
Música alta (bem alta)
Saudade de Tê e Lu, de Mabi e Bá
Ausência de Al
Gabi presente
Sem ele
Sem vontade alguma de ter ele (oba!)
Amassada de tantos abraços
Taça esborrando de bons desejos
Boas energias
Bons olhares
Eu, completa
Inteira
Madura
Segura
Feliz
Plena de esperanças
Levemente tonta
Absurdamente serena
Bolo recebido de presente
Pedido de paz às velinhas
Cobertura de chocolate
Lambida de dedo
Muitos encontros
Conversa fiada
Tranqüilidade
Certeza:
Será massa ter 28 anos!
23 agosto, 2006
18 agosto, 2006
Achado
Passeando em Porto, entre sorvetes e surfistas, ela chamou minha atenção. Ao longo do dia, já havia me encantado com vestidos, biquínis, barrigas morenas, olhares curiosos e com uma rede cor-de-laranja que ficaria fantástica em meu novo quarto, mas, a princípio, confesso, não a percebi.
Fazia tempo que não ia até lá. As ruas agora são exclusivas para os pedestres. Os carros não têm mais vez, estacionam pelas redondezas. Construíram várias pracinhas charmosas dividindo e colorindo a passagem, pintaram e reformaram todas as casas – até as mais simples. A cidade, mais do que nunca, parece ter sido feita para encantar e deixar a todos com saudade na hora de partir.
Fiz aquele mesmo caminho dezenas de vezes por diversas razões, ao longo de minha vida: paquerar, namorar, jantar, tomar sorvete, comprar artesanato, chegar à praia, beber Carreteiro, curtir a um show. Mas nunca a havia visto ali, bem no meio do caminho. Na verdade, nem sei se ela existia. Pelo tamanho e a pintura recente, talvez seja mesmo mais uma das novidades do lugar.
Estava aberta. E como sentia meu coração fechado, as portas escancaradas me pareceram um convite a uma visita. Lá fui. Entrei com o pé direito, pedi licença e me emocionei com tanta simplicidade. “Os simples de coração são queridos por Deus”, diz sempre um amigo meu. Ao centro, uma cruz, um altar modesto e uma imagem da Virgem de Fátima abençoando o espaço pouco maior do que ela.
Como deve ser, fiz os tradicionais três pedidos concedidos a todos que entram pela primeira vez em uma igreja. Certamente, naquele silêncio, um anjo de passagem deve ter me ouvido. Em tempos de mentira, Porto foi um presente de Verdade na minha vida. Deixou a certeza de que não estou sozinha e que ainda há muitos caminhos coloridos a percorrer.
Ah, os pedidos! Esses eu não conto. São segredos entre mim e o céu.
17 agosto, 2006
Por hoje
Sou músicas
Retratos
Vestidos
Borboletas e
Flores.
Sou cores:
Rosa sempre
Laranja às vezes
Tricolor há pouco tempo.
Sandália havaiana,
Salto alto
Baque na rua.
Sou romance
Observação
Abraço
Carinho nos cabelos
Conversa fiada
Papo cabeça.
Sou poesia
Caminhada na praia
Medo de bola e de tubarão
Garrafa d’água
Aula de Português
Aula de percussão.
Sou janela quebrada.
Chocolate alemão
Vinho tinto
Caminho sem destino
Olhar ao longe
Óculos escuros.
Sou espera
Perdão
Angústia
Decepção.
Sou desejo que o tempo leve
Que a vida cure
Que a alma limpe
Os olhos sequem
O sorriso surja
E a chuva passe.
Retratos
Vestidos
Borboletas e
Flores.
Sou cores:
Rosa sempre
Laranja às vezes
Tricolor há pouco tempo.
Sandália havaiana,
Salto alto
Baque na rua.
Sou romance
Observação
Abraço
Carinho nos cabelos
Conversa fiada
Papo cabeça.
Sou poesia
Caminhada na praia
Medo de bola e de tubarão
Garrafa d’água
Aula de Português
Aula de percussão.
Sou janela quebrada.
Chocolate alemão
Vinho tinto
Caminho sem destino
Olhar ao longe
Óculos escuros.
Sou espera
Perdão
Angústia
Decepção.
Sou desejo que o tempo leve
Que a vida cure
Que a alma limpe
Os olhos sequem
O sorriso surja
E a chuva passe.
16 agosto, 2006
Desafinada
Quero fazer um samba alegre
Um batuque em clima de domingo de sol
Mas meu pandeiro não vibra
O tambor está rouco
Violão, não tenho quem toque
E no lugar da cuíca,
Quem chora sou eu.
Quero fazer um samba alegre
Mas só faço lamentos.
...............................................................
"Silêncio, por favor, enquanto esqueço um pouco a dor no peito"
Um batuque em clima de domingo de sol
Mas meu pandeiro não vibra
O tambor está rouco
Violão, não tenho quem toque
E no lugar da cuíca,
Quem chora sou eu.
Quero fazer um samba alegre
Mas só faço lamentos.
...............................................................
"Silêncio, por favor, enquanto esqueço um pouco a dor no peito"
Entre homens e fadas
Meus amigos são feitos de uma matéria especial: algo entre os homens e as fadas. Têm uma varinha mágica nas mãos e o poder de transformar solidão em companhia. Eles não aparecem sempre que espero, mas nunca faltam quando preciso. E, quando chegam, renovam minhas forças, ouvem meus lamentos, não criticam meus erros, mostram-me outros caminhos e levam-me com cuidado a um lugar seguro, como se a simples presença deles pudesse me proteger de todos os males. Foi assim esse fim de semana que, de fadado à dor, transformou-se em alegria.
Cerveja preta e conversa mole varando a noite. E o novo dia começa na estrada, rumo ao mar. Sol morno, boa música, novos e velhos amigos contando histórias e fazendo sorrir. Praia. Paisagem. Paz.
Mais conversa mole e cerveja preta até chegar o pôr-do-sol em ritmo de bolero. Mãos dadas. Cheiro na flor do pescoço. Surpresa. Noite feliz. Talvez precoce. Talvez precisa. Sem pretensões, como deveria ser tudo na vida.
O sol que nasce vem dar um outro bom dia, rumo a outros mares. Mais estrada, os mesmos amigos. Mergulho em águas novas e limpas. Vento no rosto. Brincar tal crianças e peixes. Soltar os cabelos. Respirar a brisa. Dormir exausta e muito feliz.
A vida acaba de recomeçar (de novo).
À Talita, a fada do fim de semana.
08 agosto, 2006
Rumo certo
Encontro
Recife, 3 de agosto de 2006
Te tive sob minhas lentes
ao acordar, gargalhar
caindo em pranto
fazendo charme.
Tantas, tantas vezes
despenteado, barbado, safado
desprotegido, cansado, molhado
Mil olhares, incontáveis momentos.
Em cada encontro,
a alegria de me saber em você.
Em cada olhar,
teu amor de volta.
E talvez seja assim pra sempre.
Ao menos até hoje nada mudou.
Te tive sob minhas lentes
ao acordar, gargalhar
caindo em pranto
fazendo charme.
Tantas, tantas vezes
despenteado, barbado, safado
desprotegido, cansado, molhado
Mil olhares, incontáveis momentos.
Em cada encontro,
a alegria de me saber em você.
Em cada olhar,
teu amor de volta.
E talvez seja assim pra sempre.
Ao menos até hoje nada mudou.
01 agosto, 2006
A vida é um pneu furado
Como todos sabem: capotei!
Não foi só naquela noite na estrada, por causa de uma “tartaruguinha” furadora de pneus. Capotei minhas férias inteiras! A cada dia, a cada instante.
Um mês inteiro me debatendo contra a vida, sacudindo o corpo, desorientada, com a vista turva - porque o óculos voou longe no primeiro sacolejo. Com os pés descalços, sem saber onde guardar a bagagem, nem onde me abrigar pra seguir a viagem.
Primeiro, ouvi aquele som estranho, sinal de que alguma coisa não está indo bem. Depois, foi tudo muito rápido, só vi o mundo todo girando e a sensação de não haver mais nada que eu pudesse fazer para mudar meu destino ou pelo menos o final daquele acidente de percurso. Estava tudo acabado! Ribanceira abaixo, parei. Tonta, cega, trêmula, nervosa, com medo do escuro, mas sem nenhum receio de ir em frente.
Sim. Capotei todos os dias. Mas, diferente daquele carro, eu estava sozinha, e até gritei. Ninguém ouviu.
Agora passou. Sem dores no corpo, com as últimas marcas desaparecendo, me preparo pra outra viagem. Tem outro dia vindo por aí.
Vaga lembrança
O amor passou por aqui.
Foi tão rápido e devastador, que alguns nem acreditam.
Eu sei que passou. Porque não sou mais a mesma.
O amor arrancou minhas roupas e minha paz
me tirou do rumo, me levou de casa, me largou na rua.
O amor calou meu Carnaval e ofuscou minha folia
rabiscou meus papéis e secou meus tinteiros.
O amor me mostrou o poder da verdade e a dor da mentira
me pôs em pecado, enfraqueceu minhas orações, fortaleceu minha fé.
O amor despenteou os meus cabelos, suou meu corpo
e estremeceu minhas pernas, depois, me despertou com um sorriso,
sambou no meu juízo, cantou pra eu dormir e,
enquanto sonhava, ele fugiu, covarde,
sem sequer dizer adeus.
18 julho, 2006
De luto
O que fazer senão chorar a morte de um amor?
A morte do meu amor eu choro com desespero e convulsão. Arranco cabelos, rasgo a pele, grito alto pra pôr pra fora toda a dor (porque por algum lugar ela há de sair).
Na morte do meu amor, meu corpo estremece solitário, vaga sem norte, como quem ainda procura o velho porto seguro. Olho o cadáver do ser amado, acaricio seu rosto, mas seu semblante não mais se ilumina com meu carinho, nem seu corpo se arrepia ao meu toque. Então, desisto, volto a chorar. De todos os meus poros saem lágrimas. A alma precisa ser limpa, a pele, lavada.
Tudo no mundo é finito, exceto as histórias de amor. Elas permanecem, mesmo quando ele, o próprio amor, já foi. Histórias sobrevivem em detalhes que não conseguem ser esquecidos, em cheiros, em músicas, em lugares, no pôr-do-sol, na lua cheia, num sabor, no brilho do olho direito. E quando não há mais o que escrever, além de “fim”, há de se chorar. Deixar todos os sentidos penarem pela ausência de novos capítulos, até se acostumarem com o inevitável: é preciso começar de novo. Outra história. Outro amor. Sim, e claro, outro fim.
Qualquer dia desses, com o corpo erguido e o rosto limpo, inicio outro livro. Hoje não. Ainda não. Hoje eu só quero chorar bem alto essa saudade que acelera o coração e dá uma fisgada na coluna a cada lembrança. Quero ser criança assustada, com medo do escuro. Quero fazer manha, pedir colo, dizer que não sei para onde ir.
Quero chorar a morte do meu amor como quem chora o fim da minha ilusão, da minha derradeira alegria, da minha própria vida. Pra um dia, breve, ainda no inverno, minha alma serenar e musicar alguma coisa mansa, lembrando que o amor passou, mas eu fiquei.
26 junho, 2006
Junina
São João deve até ter dormido esse fim de semana. Mas eu não! Não mesmo!
Dizem que funciona assim: ele precisa ficar dormindo, enquanto o povo todo comemora seu nascimento, acendendo fogueiras e soltando fogos. Se um dia ele acordar, o mundo acaba! Então é melhor nem arriscar, e torcer pra o barulho dos rojões, o chiado dos buscapés e a luz das estrelinhas não incomodar seu cochilo sagrado. Porque do jeito que a gente comemora, o santinho ia acordar assustado com a confusão, e teria todas as razões pra dar um fim ao mundo em plena festa de aniversário.
Brasileiro, fogoso do jeito que é, tinha que inventar alguma coisa pra aumentar a diversão e a semvergonhice da festa. Foi daí que surgiu o forró. Coisa do diabo! Um esfrega-esfrega, um suadeiro, boca no cangote, nó na perna, aperto na cintura! Virgem Maria! Sei nem porque está ligado a uma data santa. Eu nunca vou entender esses costumes sacro-profanos brasileiros, mas continuo aproveitando todos assim mesmo! Porque esses pecados coletivos deve ter menos peso na hora do juízo final, né?
E foi com esse espírito que saí do Recife rumo ao Sertão, na sexta-feira. Dessa vez, não levei as amigas de costume, nem fiz as farras sem limites dos anos passados. E entre algumas grandes ausências sentidas e outras presenças intensamente comemoradas, curti uma festa em família, mas feliz! Muito feliz! Como nunca pode deixar de ser quando se está em Arcoverde.
Coco Raízes. Poesia. Forró pé-de-serra. Amigos. Uma cana pra aquecer do frio e dar dor de cabeça. Festa na rua. Show de buscapés. Abraços. Sorrisos.
Agora acabou. São João pode até acordar. Ano que vem tem mais.
09 junho, 2006
A difícil arte.. de escolher - Parte II
Transitar pelas ruas da vida reconhecendo a hora de seguir em frente, ajustar a velocidade, respeitar os sinais e quebrar nas esquinas não é nada fácil. Mas todo mundo precisa fazer.
O negócio nem sempre dá certo. O pior é que além de nos cobrarmos por bons resultados no final de cada trecho, ainda esperamos que a escolha do outro satisfaça nossas expectativas. O problema é que o outro tem sua própria forma de fazê-las e, quando a gente vê, desencontrou.
Aí é que o caldo desanda, a gente se decepciona e pronto! Acabou-se o mundo! Pelo menos o nosso, até percebermos que tudo estava mesmo era escrito em algum plano de bordo invisível. Tudo: até aquela dor da impotência, por não entender como o outro pôde dobrar uma esquina deixando para trás alguém tão fantástico - e modesto - quanto nós.
E quando cansamos de esperá-lo voltar, vamos embora. Mas ir embora também foi uma escolha, que talvez ninguém nunca entenda.
Isso deveria ser ensinado na escola...
08 junho, 2006
A difícil arte... de escolher
A vida é assim. Feita de escolhas.
Colorido ou preto e branco
Analógico ou digital
Água ou vinho
Ser hippie ou capitalista
Destro ou canhoto
Ateu ou cristão
Dormir até mais tarde ou chegar cedo na praia
Fazer farra pela madrugada ou fazer amor
Adormecer nos braços da paz
Ou viver o êxtase de uma noite de samba
Às vezes seria bom ter os dois!
Às vezes até podemos ter...
Mas hoje eu escolhi.
Entre abraçar o mundo e ser abraçada
Escolhi o mais seguro.
Mil vezes pedi a Deus “a sorte de um amor tranqüilo”.
Recebi.
Aqui estou.
03 junho, 2006
Madrugada
No meio da noite, um suspiro de alegria
um sorriso quase irônico, mudando a face que já nem se reconhecia.
No meio da noite, um braço inesperado
velho conhecido, me enlaça e me faz dormir em paz.
No meio da noite, segurança
a paz rondando meus sonhos, dizendo que não me abandonou.
Também comigo, o medo do sol nascer
e ser obrigada a despertar e me redescobrir: sozinha.
Amanhã nada vai mudar.
Não terei um cúmplice, um amor, um ombro.
Amanhã tudo volta a seu lugar.
Inclusive eu.
Madura pra brincar de ser moderna
mas não o suficiente pra ser feliz sozinha, no meio da próxima noite.
02 junho, 2006
Só por enquanto
Deliberei sofrer.
Minha tendência a "Pollyana moça" não me permitiu fazer isso por quase três décadas.
Agora escancarei.
Resolvi maturar um pouquinho minha dor.
Pagar pra ver até onde ela me leva,
ou se não vai aguentar viva dentro de mim por muito tempo.
Mas não sofro por amor, e sim pela falta dele.
Sofro ao lembrar da menina do blog cor de rosa que habitava aqui antes dessa mulher em preto e branco tomar seu lugar.
Sofro pela falta de sonhos, de planos.
Pelos foras provocados.
Pelos danos irreparáveis.
Pelos caminhos sem volta.
Sofro ao me flagrar fazendo ou dizendo coisas que a menina cor de rosa não faria ou diria.
Sofro por não ser mais "Pollyana", por não ser rosa,
por ser uma nova mulher, que ainda não sabe o que quer da vida.
E enquanto não se acha, vai sofrendo.
Dizem que assim é que se aprende.
31 maio, 2006
As baixelas
Ando pensando em recomeços
Já fiz isso tantas vezes, que perdi a conta. Mas essa será a primeira em que ele acontece sem a minha vontade. Acabo de me dar conta de ter sobrevivido a um grande furacão. O danado derrubou minha casa, me arrancou pedaços e o corpo ainda dói - reflexo da faxina nos destroços. Mas estou aqui, no meio da rua, trazendo na bagagem o que restou, esmolando afeto e teto, sem saber qual o próximo passo. Me vendo nessa situação, percebo ser essa a hora de recomeçar, planejar onde estacionar, e escolher o lugar para guardar as malas e voltar à vida. Não será a primeira vez.
Desde criança, moro à conta-gotas. Deixo mudas de roupas em casas de amigos, parentes, namorado. Meu humor e carência ditavam onde iria ficar por aquela noite, semana, mês ou ano. Nenhum lugar teve meu jeito, nunca tive um quarto, vivi de encaixes. Não foi ruim.
Cada chegada era uma conquista. A felicidade de fazer parte da história de mais uma família, a satisfação de compartilhar novos sonhos, levar alegria a outro lar. Cada mudança, um recomeço, uma nova oportunidade de fazer as malas, deixar um pedaço de mim e levar as lembranças de meus companheiros.
Não sei quanto de mim larguei para traz em cada partida. Às vezes achava que estava levando coisas demais; em outras, preferi não pegar nada. Eu sou a soma desses pedaços roubados, esquecidos, colados em mim ao longo da estrada. Retratos, músicas, caixas, vestidos, se renovam em cada porto. E lá vou eu para mais uma viagem.
Hoje, passada a angústia da mais recente partida, dei por falta das baixelas de vidro. Lembro que ia guardar, mas eram frágeis, pesadas, e preferi deixar para o final. Acabei pondo coisas demais na mala. Para cada objeto recolhido, mais uma parte de mim ficava pelos cantos. Levei quase tudo. Deixei minha história e as baixelas. A história, não tenho como recuperar. Os vidros não me farão falta.
Carrego o suficiente. Já posso recomeçar.
Já fiz isso tantas vezes, que perdi a conta. Mas essa será a primeira em que ele acontece sem a minha vontade. Acabo de me dar conta de ter sobrevivido a um grande furacão. O danado derrubou minha casa, me arrancou pedaços e o corpo ainda dói - reflexo da faxina nos destroços. Mas estou aqui, no meio da rua, trazendo na bagagem o que restou, esmolando afeto e teto, sem saber qual o próximo passo. Me vendo nessa situação, percebo ser essa a hora de recomeçar, planejar onde estacionar, e escolher o lugar para guardar as malas e voltar à vida. Não será a primeira vez.
Desde criança, moro à conta-gotas. Deixo mudas de roupas em casas de amigos, parentes, namorado. Meu humor e carência ditavam onde iria ficar por aquela noite, semana, mês ou ano. Nenhum lugar teve meu jeito, nunca tive um quarto, vivi de encaixes. Não foi ruim.
Cada chegada era uma conquista. A felicidade de fazer parte da história de mais uma família, a satisfação de compartilhar novos sonhos, levar alegria a outro lar. Cada mudança, um recomeço, uma nova oportunidade de fazer as malas, deixar um pedaço de mim e levar as lembranças de meus companheiros.
Não sei quanto de mim larguei para traz em cada partida. Às vezes achava que estava levando coisas demais; em outras, preferi não pegar nada. Eu sou a soma desses pedaços roubados, esquecidos, colados em mim ao longo da estrada. Retratos, músicas, caixas, vestidos, se renovam em cada porto. E lá vou eu para mais uma viagem.
Hoje, passada a angústia da mais recente partida, dei por falta das baixelas de vidro. Lembro que ia guardar, mas eram frágeis, pesadas, e preferi deixar para o final. Acabei pondo coisas demais na mala. Para cada objeto recolhido, mais uma parte de mim ficava pelos cantos. Levei quase tudo. Deixei minha história e as baixelas. A história, não tenho como recuperar. Os vidros não me farão falta.
Carrego o suficiente. Já posso recomeçar.
25 maio, 2006
Melancolia
A cabeça vazia, de tão cheia.
Tempo amargo, boca seca,
embate de mim, entrave.
Eu, melancólica.
A primeira a acordar dos sonhos.
De castelo de nãos, no reino da espera.
Melancólicas frustações; sadismo e acidez.
Batendo o mesmo prego em espumas, os olhos irritados.
Eu, tola e intolerante.
Agora, sem pressa; sem pressão.
Vagando na rua em noites de chuva
Sem porto, sem abrigo.
Eu, arrogantemente ridícula e muda.
Incógnita, indecifrável, oculta.
Sorriso escondido por trás de palavras caladas.
Olhar desviado, temendo ser lido.
Eu, sem eu.
O caos buscando a luz.
Mas ainda escrevendo...
06 abril, 2006
Possuída
Todo dia um desafio: esconder meus demônios em um lugar diferente
Longe de minha vista ou distante de meus desejos
Pra não me deliciar com pecados, nem morrer por eles.
Demônios que mandam eu pular da varanda
Que me fazem temer o poder de uma criança na rua
Que jogam meus restos na mesma rua
Demônios que dão preguiça e confortam no ócio
Que pedem mais uma dose, mais um trago
Demônios fortalecidos em alucinações e angústias
Demônios que maltratam meus desafetos
Demônios que gritam na minha cabeça
E não me deixam dormir até tarde, nem lembrar dos meus sonhos.
Demônios que assassinam anjos
Apagam a luz das risadas
Empestam a mente de vermes e traças
Perseguem, corroem.
Fazem pensar ser partes sujas de mim
E que meu poder de amar é finito; mas o de tudo poder, não.
Mentirosos, insolentes, traiçoeiros, traidores
Vingativos, rancorosos, temidos e temerosos
Fingem ser eu nas horas que esqueço quem sou
Demônios projetados, esperados
Prontos pra me receber e me dominar
Demônios combatidos todo dia.
Demônios vencidos, pelo menos hoje.
Longe de minha vista ou distante de meus desejos
Pra não me deliciar com pecados, nem morrer por eles.
Demônios que mandam eu pular da varanda
Que me fazem temer o poder de uma criança na rua
Que jogam meus restos na mesma rua
Demônios que dão preguiça e confortam no ócio
Que pedem mais uma dose, mais um trago
Demônios fortalecidos em alucinações e angústias
Demônios que maltratam meus desafetos
Demônios que gritam na minha cabeça
E não me deixam dormir até tarde, nem lembrar dos meus sonhos.
Demônios que assassinam anjos
Apagam a luz das risadas
Empestam a mente de vermes e traças
Perseguem, corroem.
Fazem pensar ser partes sujas de mim
E que meu poder de amar é finito; mas o de tudo poder, não.
Mentirosos, insolentes, traiçoeiros, traidores
Vingativos, rancorosos, temidos e temerosos
Fingem ser eu nas horas que esqueço quem sou
Demônios projetados, esperados
Prontos pra me receber e me dominar
Demônios combatidos todo dia.
Demônios vencidos, pelo menos hoje.
03 abril, 2006
Sobre flores e outros nascidos
Esses dias descobri uma coisa engraçada. Eu, que sempre me orgulhei de estudar as "coisas da vida", me dei conta que não sabia como nasce uma flor.
...
Nasci em uma família historicamente católica, e acabei sendo responsável por sua grande mudança doutrinária, quando tive a vida salva, ainda bebê, após uma cirurgia espiritual feita pelo Dr. Fritz, incorporado no médico Edson Queiroz. Depois do "milagre", todos lá em casa passaram a acreditar que havia algum mistério envolvendo aquele homem e o universo. Uma criança desenganada pela Igreja, terreiros e, claro, pela Medicina, não poderia ficar bem depois de ter o dedo indicador de um "possuído" enfiado em seu pescoço! Mas eu fiquei! Em duas semanas, me curei de uma ferida que não cicatrizava, e hoje não passa de um tracinho com cara de microintervenção cirúrgica.
Quando cresci e ouvi essa história absurda, resolvi tentar entender como isso poderia acontecer, e fui estudar um pouco mais sobre a vida na Terra e fora dela. Mas nunca fui muito boa em Ciências ou Biologia. Na verdade, eu não entendo NADA sobre o assunto e seria incapaz de dizer até quais são as partes de uma célula. A vida que andei estudando esse anos nunca estava ligada à matéria, só à alma. Talvez por isso tenha me esquecido das flores.
...
Quando olhava para elas, pensava que nós sempre precisávamos plantá-las para existirem. Aqueles campos coloridos, cheinhos de rosas, gerânios e flores do campo, certamente, seriam decorrência de um extenso trabalho mecânico e humano, claro!
- Sim, mas e nas matas, como as flores surgiam?
- Bem... Por geração espontânea?
É, definitivamente, eu nunca havia pensado nas flores. Não que eu seja antiromântica. Ao contrário! Sou até demais. Mas vejo no romantismo algo além buquês ou pétalas vermelhas em banheiras.
...
Eu jamais me importei com as flores! Uma pena... Talvez tivesse descoberto um pouco antes que elas precisam de outros seres para se reproduzir.
Humanos e animais só precisam de outros humanos e animais para continuarem existindo. Eu estaria aqui com ou sem flores. E Isaltina estaria lá em casa com ou sem abelhas. Mas as flores não estariam em lugar algum sem as abelhas! Porque são elas que ajudam na troca das células reprodutoras entre as flores, tornando possível a geração de uma outra flor.
Meus cabelos crescem sozinhos. Minhas unhas crescem sozinhas. As flores, não. Girassóis e violetas não dão continuidade à espécie apenas sacodindo sementes no chão! E também seria meio impossível todos terem sido plantados pelo homem! Como eu nunca pensei nisso antes?
...
Sempre me considerei tão esperta e inteligente, mas acabei esquecendo de olhar os pontos mais simples. As flores... Todo dia lá, olhando pra mim, e eu nunca me perguntei de onde elas teriam vindo!
Que coisa feia!
24 março, 2006
Luzes da vida
de manhã vem o sol,
atravessa a janela e esquenta o rosto
invade o quarto
e me faz levantar.
lentes escuras para encarar as ruas
luzes das telas e dos flashes
trabalho, diversão, informação
lá se vai o dia.
a tarde chega
e, antes de ir,
como quem quer me agradar,
deixa um tom rosa no céu.
a cor do amor se transforma
e, quando a noite vem,
velas iluminam os cômodos
perfumam a casa.
mais tarde, apago o fogo
e acendo a lanterna: vermelha!
pra colorir minha paixão
e iluminar meus sonhos.
19 março, 2006
Cada um com a sua...
Do Ás ao Rei me mandou essa corrente:
"Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs aviso do 'recrutamento'. Ademais, cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blog".
.............................................................
Preciso ressaltar que esse post é, antes de tudo, uma prova de amor. Sou absolutamente contra correntes e jamais moveria uma palha para dar continuidade a qualquer uma delas. No entanto, como o convite partiu do meu marido lindo, e consegui um tempo livre para escrever, aqui estão listadas cinco das minhas manias. Para não quebrar minha tradição anti-correntes, não vou indicar nenhum blog a fazer a mesma coisa. Logo, essa brincadeira não passa daqui, se depender de mim.
Tenho mania de tomar cajarosca no Empório, caipirosca no Garrafus, de só beber vodka com guaraná diet, comer bifun no Xangai, sanduíche de ricota e tomate seco no Bugaloo e tempurá no Tepã. Essas manias são minhas, só minhas. Juntando todas, já passaram de cinco.
Mas como podemos diferenciar manias de hábitos? Tudo listado acima, por exemplo, percebo como hábitos. Manias são aquelas esquisitas, como roer unha até doer, jogar "snake" no celular nas horas vagas, pisar primeiro com o pé direito quando levanto da cama ou entro em algum lugar importante, beijar a medalhinha em meu pescoço toda vez que saio ou volto pra casa, e dizer “ê” pra passar o tempo e minimizar a chatice de tarefas repetitivas como procurar nomes numa agenda de celular, digitar ou procurar textos no computador, mexer panelas ou arrumar o guarda-roupa. Só que nenhuma dessas manias é só minha. Com exceção do “ê”, que deve ser feito apenas por mim e Adriana (de quem adquiri a mania), todas as outras devem fazer parte da rotina de milhares de pessoas.
Ah! Vou tentar pensar em algumas parecidas comigo, deixar de conversa mole e começar logo essa lista.
1 - Uma mania que me segue desde a época da faculdade é a de sempre – eu disse SEMPRE – ter à mão bloco e caneta. Isso vale para o dia-a-dia e se estende à praia, festas de casamento e formaturas ou a um simples encontro com a galera no bar (onde o kit é ainda mais imprescindível).
Assim, posso anotar tudo de fantástico que vejo e ouço para lembrar depois, já que minha memória não consegue fazer isso sozinha.
2 - Uma mania estranha, mas que não consigo deixar, é de dormir completamente em cima da cama. Explico. Quando deixo alguma parte de corpo pra fora, seja a mão, o braço ou a pontinha do pé, tenho a impressão de que algum ser do mal vai surgir debaixo da minha cama e puxar o membro “pendurado” – e eu junto, claro! - para algum lugar terrível e sem volta.
Apesar de ter consciência da impossibilidade disso acontecer, não consigo me sentir à vontade pra pegar no sono enquanto não estou completamente protegida e, de preferência, cobertíssima pelo lençol.
3 - A tecnologia nunca poderia ficar de fora da lista de manias de uma pessoa comum, e minha mania tecnológica é a de girar o mouse duas vezes em sentido horário sempre que pego nele.
Eu não havia percebido, mas desde que minha chefe observou e me contou, fico atormentada, querendo me controlar pra não fazer e não consigo! É involuntário. Eu fico digitando, digitando... e quando vou pegar no danado do mouse, rodo ele de novo. Acho que isso deve ter surgido em algum desses micros onde o mouse estava imundo e eu precisava sacudir pra ele pegar no tranco. Bem, é só uma suposição. Seja lá qual for a real origem da mania, o importante é que ela está aqui, e não consigo mudar.
4 - Ah! Eu converso MESMO com os bichos na rua. Claro que há os contatos mais freqüentes, como cachorros e vacas. Mas se outras espécies derem bobeira, vou pra junto também.
É mais forte que eu. Se eles passam do outro lado da rua, já estou atravessando pra dar um cheirinho ou pelo menos alisar a cabeça do bicho. Independente de raça, tamanho ou estado de limpeza, eu vou me aproximar. Por uma questão de sorte, ou empatia natural, nenhum nunca avançou. Acho que eles gostam da minha voz especializada em diálogos com animais. Quem menos gosta dessa mania é o meu marido que, quando não consegue evitar o “agarrado”, já vai gritando: na boca não!!!!!
5 - E por falar nele... Aí está minha maior mania: o meu Ás, o meu Rei.
Mania de coçar sua cabeça até ele dormir e de procurá-lo ao meu lado assim que acordo. Mania de sentir saudade quando ele fecha a porta ou se despede, e de mandar mensagens de “te amo” no meio da tarde. Mania de fazer carinho e cócegas, de beijar manso e cheirar o cangote. Mania de fechar os olhos quando ele encosta no meu rosto e de sorrir ao ouvir sua voz ou nome. Mania de acreditar que ele é o amor da minha vida e que tudo isso será eterno. Mania de achar ele o melhor músico, o melhor escritor, o melhor marido, o melhor cozinheiro, o melhor contador de histórias e o maior dos “enrrolões”, porque me faz acreditar de verdade nisso tudo, e amá-lo ainda mais.
"Cada bloguista participante tem de enumerar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que o diferenciem do comum dos mortais. E, além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogs aviso do 'recrutamento'. Ademais, cada participante deve reproduzir este 'regulamento' no seu blog".
.............................................................
Preciso ressaltar que esse post é, antes de tudo, uma prova de amor. Sou absolutamente contra correntes e jamais moveria uma palha para dar continuidade a qualquer uma delas. No entanto, como o convite partiu do meu marido lindo, e consegui um tempo livre para escrever, aqui estão listadas cinco das minhas manias. Para não quebrar minha tradição anti-correntes, não vou indicar nenhum blog a fazer a mesma coisa. Logo, essa brincadeira não passa daqui, se depender de mim.
Manias
Fiquei um tempão pensando em cinco manias exclusivas e até pensei que não iria encontrar. Depois lembrei que sou fixa demais para não acumular manias. O simples fato de ser “fixa” me faz ter mania de quase tudo, como sempre ir aos mesmos bares e restaurantes e, quando possível sentar na mesma mesa, sorrir para o velho garçom amigo e dizer: o de sempre.Tenho mania de tomar cajarosca no Empório, caipirosca no Garrafus, de só beber vodka com guaraná diet, comer bifun no Xangai, sanduíche de ricota e tomate seco no Bugaloo e tempurá no Tepã. Essas manias são minhas, só minhas. Juntando todas, já passaram de cinco.
Mas como podemos diferenciar manias de hábitos? Tudo listado acima, por exemplo, percebo como hábitos. Manias são aquelas esquisitas, como roer unha até doer, jogar "snake" no celular nas horas vagas, pisar primeiro com o pé direito quando levanto da cama ou entro em algum lugar importante, beijar a medalhinha em meu pescoço toda vez que saio ou volto pra casa, e dizer “ê” pra passar o tempo e minimizar a chatice de tarefas repetitivas como procurar nomes numa agenda de celular, digitar ou procurar textos no computador, mexer panelas ou arrumar o guarda-roupa. Só que nenhuma dessas manias é só minha. Com exceção do “ê”, que deve ser feito apenas por mim e Adriana (de quem adquiri a mania), todas as outras devem fazer parte da rotina de milhares de pessoas.
Ah! Vou tentar pensar em algumas parecidas comigo, deixar de conversa mole e começar logo essa lista.
1 - Uma mania que me segue desde a época da faculdade é a de sempre – eu disse SEMPRE – ter à mão bloco e caneta. Isso vale para o dia-a-dia e se estende à praia, festas de casamento e formaturas ou a um simples encontro com a galera no bar (onde o kit é ainda mais imprescindível).
Assim, posso anotar tudo de fantástico que vejo e ouço para lembrar depois, já que minha memória não consegue fazer isso sozinha.
2 - Uma mania estranha, mas que não consigo deixar, é de dormir completamente em cima da cama. Explico. Quando deixo alguma parte de corpo pra fora, seja a mão, o braço ou a pontinha do pé, tenho a impressão de que algum ser do mal vai surgir debaixo da minha cama e puxar o membro “pendurado” – e eu junto, claro! - para algum lugar terrível e sem volta.
Apesar de ter consciência da impossibilidade disso acontecer, não consigo me sentir à vontade pra pegar no sono enquanto não estou completamente protegida e, de preferência, cobertíssima pelo lençol.
3 - A tecnologia nunca poderia ficar de fora da lista de manias de uma pessoa comum, e minha mania tecnológica é a de girar o mouse duas vezes em sentido horário sempre que pego nele.
Eu não havia percebido, mas desde que minha chefe observou e me contou, fico atormentada, querendo me controlar pra não fazer e não consigo! É involuntário. Eu fico digitando, digitando... e quando vou pegar no danado do mouse, rodo ele de novo. Acho que isso deve ter surgido em algum desses micros onde o mouse estava imundo e eu precisava sacudir pra ele pegar no tranco. Bem, é só uma suposição. Seja lá qual for a real origem da mania, o importante é que ela está aqui, e não consigo mudar.
4 - Ah! Eu converso MESMO com os bichos na rua. Claro que há os contatos mais freqüentes, como cachorros e vacas. Mas se outras espécies derem bobeira, vou pra junto também.
É mais forte que eu. Se eles passam do outro lado da rua, já estou atravessando pra dar um cheirinho ou pelo menos alisar a cabeça do bicho. Independente de raça, tamanho ou estado de limpeza, eu vou me aproximar. Por uma questão de sorte, ou empatia natural, nenhum nunca avançou. Acho que eles gostam da minha voz especializada em diálogos com animais. Quem menos gosta dessa mania é o meu marido que, quando não consegue evitar o “agarrado”, já vai gritando: na boca não!!!!!
5 - E por falar nele... Aí está minha maior mania: o meu Ás, o meu Rei.
Mania de coçar sua cabeça até ele dormir e de procurá-lo ao meu lado assim que acordo. Mania de sentir saudade quando ele fecha a porta ou se despede, e de mandar mensagens de “te amo” no meio da tarde. Mania de fazer carinho e cócegas, de beijar manso e cheirar o cangote. Mania de fechar os olhos quando ele encosta no meu rosto e de sorrir ao ouvir sua voz ou nome. Mania de acreditar que ele é o amor da minha vida e que tudo isso será eterno. Mania de achar ele o melhor músico, o melhor escritor, o melhor marido, o melhor cozinheiro, o melhor contador de histórias e o maior dos “enrrolões”, porque me faz acreditar de verdade nisso tudo, e amá-lo ainda mais.
17 março, 2006
Dia Internacional do Luto
Há 10 dias, entre uma matéria e outra, preparei um texto para o Dia Internacional da Mulher. Mas esse negócio de ser mulher é tão complicado, que acabei não tendo tempo de postar. Se ser jornalista já é uma missão e tanto, ser blogueira, orkuteira, colega, esposa, dona de casa, filha, neta, irmã, amante, companheira e sexy ao mesmo tempo é ainda mais difícil!
Resultado: o tal 8 de março passou, literalmente, em branco nesse blog fuleiro. Mas parece que foi só aqui mesmo... No resto do mundo todos os pequenos - e grandes - espaços foram reservados para elogiar, parabenizar e fazer discursos exaltando as conquistas femininas e a importância da mulher na sociedade. Ridículo!
Explico. No último dia 8, não me achei com a menor vontade de comemorar. Meu desejo era mesmo o de protestar. Em todos os lugares as mulheres são preteridas (mas isso os homens nunca vão perceber). Até parece que as civilizações pensaram suas culturas para reduzir nossa participação social. Aqui no Recife, onde vejo de perto a discriminação, a situação não está nada boa.
No dia em que todo mundo fingia respeitar as mulherada. A cidade amargava 72 assassinatos de mulheres só esse ano! A maior parte, vítima de um parente próximo ou do "companheiro". Uma vergonha! Outra característica das vtimas e que elas são, em sua maioria, negras e pobres.
Os homens negros e pobres aqui também morrem cedo. Eles começam no crime ainda crianças. Praticam furtos, consomem e traficam drogas. Logo acabam sendo mortos pela polícia, por adversários e até pelos comparsas.
As mulheres negras e pobres seguem um outro caminho. Elas freqüentam a escola, reprovam pouco e só se afastam dos estudos para terem seus filhos, cujos pais, negros e pobres, estão envolvidos em algum crime. Por não terem formação profissional, acabam ficando em casa, cuidando das crianças - uma nova a cada ano - e sendo sustentadas, muito precariamente, por seus homens.
Mas no dia em que eles enchem a "cara de cana" ou voltam pra casa de mau humor, é nelas que descontam todas as insatisfações e ansiedades. Eles as molestam, as violentam, as espancam. Quando têm sorte, elas se recuperam, e rezam quietas para o rompante demorar a acontecer de novo. Mas 72 mulheres do Recife não tiveram tanta sorte.
Elas tentaram fazer diferente. Não participaram do tráfico de drogas, não cometeram assaltos, não mataram ninguém. Apenas amaram seus homens e pariram seus filhos. Ainda assim, morreram cedo. Cedo demais...
......
Enquanto recebi, no dia 8, uma rosa vermelha, pensei nessas mulheres, mortas pelo filho da mãe com quem dormia todo dia! A surra que levou ou a bala que atravessou seu corpo antes delas morrerem devem ter doído bastante. Mas não tanto quanto ver a mão que já a acariciou, ser levantada contra seu rosto.
Nós, mulheres estudadas, cultas e independentes, jamais entenderemos as razões que fazem alguém permanecer em casa sob ameaça de vida. Talvez porque nunca tenhamos passado fome, ou por termos uma família protetora, ou uma grana guardada para imprevistos. Talvez até por conhecermos nossa força de trabalho e carregarmos um bom currículo, que logo nos abriria novas portas. Elas não têm nada disso!
Os números que justificam as comemorações do Dia Internacional da Mulher falam de conquistas como o direito à educação e à cidadania, ao voto e à carteira de motorista. Eles destacam as cientistas, juízas, senadoras, pilotas, mecânicas. E daí? Podemos ser o que quisermos. Afinal, temos um cérebro. Ridículo seria tentar nos manter, ao longo da evolução social, submissas como animais domésticos.
Não posso deixar de avaliar tamanha resistência à inserção da mulher nos espaços de poder, como medo da nossa soberania. Para mim, fora o detalhe dos órgãos sexuais, poucas coisas diferem homens e mulheres. Por isso, não classifico minha postura como feminista, mas sim, igualitária. Mulheres e homens podem ser igualmente sábios, capazes, fortes, persistentes e dedicados. Mas há entre nós um grande diferencial: a sensibilidade. O principal defeito de fabricação de muitos "cabras-macho" por aí.
O que eu sei é que dificilmente mataríamos o homem com quem vivemos porque tomamos um pórre ou estamos em TPM. O que eu sei é que não faríamos acordos ilícitos com o dinheiro público e dormiríamos em paz uma noite inteira. O que eu sei é que até as próprias mulheres ainda não conseguiram impôr sua importância social. Uma pena...
Tenho um marido lindo e carinhoso, um emprego estável, uma família unida e amorosa, grana para farras e bobagens. Tenho uma vida maravilhosa, mas faço parte de menos de 10% das brasileiras. Enquanto não tiver feito alguma coisa pra mudar isso, não terei nada a comemorar, nem merecerei parabéns.
Resultado: o tal 8 de março passou, literalmente, em branco nesse blog fuleiro. Mas parece que foi só aqui mesmo... No resto do mundo todos os pequenos - e grandes - espaços foram reservados para elogiar, parabenizar e fazer discursos exaltando as conquistas femininas e a importância da mulher na sociedade. Ridículo!
Explico. No último dia 8, não me achei com a menor vontade de comemorar. Meu desejo era mesmo o de protestar. Em todos os lugares as mulheres são preteridas (mas isso os homens nunca vão perceber). Até parece que as civilizações pensaram suas culturas para reduzir nossa participação social. Aqui no Recife, onde vejo de perto a discriminação, a situação não está nada boa.
No dia em que todo mundo fingia respeitar as mulherada. A cidade amargava 72 assassinatos de mulheres só esse ano! A maior parte, vítima de um parente próximo ou do "companheiro". Uma vergonha! Outra característica das vtimas e que elas são, em sua maioria, negras e pobres.
Os homens negros e pobres aqui também morrem cedo. Eles começam no crime ainda crianças. Praticam furtos, consomem e traficam drogas. Logo acabam sendo mortos pela polícia, por adversários e até pelos comparsas.
As mulheres negras e pobres seguem um outro caminho. Elas freqüentam a escola, reprovam pouco e só se afastam dos estudos para terem seus filhos, cujos pais, negros e pobres, estão envolvidos em algum crime. Por não terem formação profissional, acabam ficando em casa, cuidando das crianças - uma nova a cada ano - e sendo sustentadas, muito precariamente, por seus homens.
Mas no dia em que eles enchem a "cara de cana" ou voltam pra casa de mau humor, é nelas que descontam todas as insatisfações e ansiedades. Eles as molestam, as violentam, as espancam. Quando têm sorte, elas se recuperam, e rezam quietas para o rompante demorar a acontecer de novo. Mas 72 mulheres do Recife não tiveram tanta sorte.
Elas tentaram fazer diferente. Não participaram do tráfico de drogas, não cometeram assaltos, não mataram ninguém. Apenas amaram seus homens e pariram seus filhos. Ainda assim, morreram cedo. Cedo demais...
......
Enquanto recebi, no dia 8, uma rosa vermelha, pensei nessas mulheres, mortas pelo filho da mãe com quem dormia todo dia! A surra que levou ou a bala que atravessou seu corpo antes delas morrerem devem ter doído bastante. Mas não tanto quanto ver a mão que já a acariciou, ser levantada contra seu rosto.
Nós, mulheres estudadas, cultas e independentes, jamais entenderemos as razões que fazem alguém permanecer em casa sob ameaça de vida. Talvez porque nunca tenhamos passado fome, ou por termos uma família protetora, ou uma grana guardada para imprevistos. Talvez até por conhecermos nossa força de trabalho e carregarmos um bom currículo, que logo nos abriria novas portas. Elas não têm nada disso!
Os números que justificam as comemorações do Dia Internacional da Mulher falam de conquistas como o direito à educação e à cidadania, ao voto e à carteira de motorista. Eles destacam as cientistas, juízas, senadoras, pilotas, mecânicas. E daí? Podemos ser o que quisermos. Afinal, temos um cérebro. Ridículo seria tentar nos manter, ao longo da evolução social, submissas como animais domésticos.
Não posso deixar de avaliar tamanha resistência à inserção da mulher nos espaços de poder, como medo da nossa soberania. Para mim, fora o detalhe dos órgãos sexuais, poucas coisas diferem homens e mulheres. Por isso, não classifico minha postura como feminista, mas sim, igualitária. Mulheres e homens podem ser igualmente sábios, capazes, fortes, persistentes e dedicados. Mas há entre nós um grande diferencial: a sensibilidade. O principal defeito de fabricação de muitos "cabras-macho" por aí.
O que eu sei é que dificilmente mataríamos o homem com quem vivemos porque tomamos um pórre ou estamos em TPM. O que eu sei é que não faríamos acordos ilícitos com o dinheiro público e dormiríamos em paz uma noite inteira. O que eu sei é que até as próprias mulheres ainda não conseguiram impôr sua importância social. Uma pena...
Tenho um marido lindo e carinhoso, um emprego estável, uma família unida e amorosa, grana para farras e bobagens. Tenho uma vida maravilhosa, mas faço parte de menos de 10% das brasileiras. Enquanto não tiver feito alguma coisa pra mudar isso, não terei nada a comemorar, nem merecerei parabéns.
02 março, 2006
Ressaca
Quarta-feira de Cinzas
De sol e sossego
A calmaria do povo
O despertar de um sonho
de fadas e heróis
Quarta-feira de Pó
Pra baixar a poeira
Descansar o corpo
Pesar os pecados
Quarta-feira de Brisa
De sombra e folhas secas
Despedidas e pés calejados
Dia de apagar as luzes
Varrer os confetes
Guardar as fantasias
Recolher os tambores
Quarta-feira de Saudade
De fim de ilusão
E começo de espera
Falta um ano pra o Carnaval...
De sol e sossego
A calmaria do povo
O despertar de um sonho
de fadas e heróis
Quarta-feira de Pó
Pra baixar a poeira
Descansar o corpo
Pesar os pecados
Quarta-feira de Brisa
De sombra e folhas secas
Despedidas e pés calejados
Dia de apagar as luzes
Varrer os confetes
Guardar as fantasias
Recolher os tambores
Quarta-feira de Saudade
De fim de ilusão
E começo de espera
Falta um ano pra o Carnaval...
23 fevereiro, 2006
De volta
Algumas coisas nos param e outras nos levam.
O amor mesmo - aquele de águas mansas - me pára.
Com ele eu só quero o ócio de planar num peito aconchegante, a dormência do repouso das pernas em outras pernas, uma fungada com cheiro amadeirado e o leve entrelace de dedos pra se fazer um só.
Com ele vivo uma dança mágica de olhos e corpos, embalada por uma música que mais ninguém ouve.
O amor me pára e me tranquiliza em momentos que queria eternizar, porque neles nada mais me falta e de nada preciso.
Já a paixão - quando a alma joga confetes e se deixa levar como num torpor de lança-perfume - me leva longe.
Seu fogo me leva às palavras, aos berros, à exibição. Seu movimento cansa o corpo, sua a pele, inquieta até o silêncio nostálgico de tempos de paz.
Me leva à busca, ao cansaço, à persistência, às lágrimas e saltos. E depois, me deixa o tédio da solidão real, consumada. Porque paixão é Carnaval: alegra, enfeita, encanta, cansa e acaba.
Quero a fórmula mágica de um amor que também me leve, me carregando cuidadoso rumo à plenitude, aos versos, à novas canções.
Quero que esse amor me renove, sem esquecer que sou feita de paixão.
............................................
Ao amor que me leva longe!
O amor mesmo - aquele de águas mansas - me pára.
Com ele eu só quero o ócio de planar num peito aconchegante, a dormência do repouso das pernas em outras pernas, uma fungada com cheiro amadeirado e o leve entrelace de dedos pra se fazer um só.
Com ele vivo uma dança mágica de olhos e corpos, embalada por uma música que mais ninguém ouve.
O amor me pára e me tranquiliza em momentos que queria eternizar, porque neles nada mais me falta e de nada preciso.
Já a paixão - quando a alma joga confetes e se deixa levar como num torpor de lança-perfume - me leva longe.
Seu fogo me leva às palavras, aos berros, à exibição. Seu movimento cansa o corpo, sua a pele, inquieta até o silêncio nostálgico de tempos de paz.
Me leva à busca, ao cansaço, à persistência, às lágrimas e saltos. E depois, me deixa o tédio da solidão real, consumada. Porque paixão é Carnaval: alegra, enfeita, encanta, cansa e acaba.
Quero a fórmula mágica de um amor que também me leve, me carregando cuidadoso rumo à plenitude, aos versos, à novas canções.
Quero que esse amor me renove, sem esquecer que sou feita de paixão.
............................................
Ao amor que me leva longe!
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