Por algum motivo – que pode incluir até meu medo constante de ser assaltada – resolvi acompanhar os passos daquela mulher enquanto eu esperava o ônibus.
Lá vinha ela, descalça, cigarro aceso na mão, caminhando sem pressa sob a garoa que fazia brilhar a calçada da Rua da Aurora. De repente, desvia do caminho e sobe para o canteiro. Segura o cigarro na ponta dos lábios e, sem sequer olhar para os lados, baixa o short e se acocora à beira do Capibaribe.
Que cena!
Aquela bunda magra me encarando desafiadora, e eu lhe devolvendo um olhar incrédulo, vendo o xixi descer em jato entre suas pernas para depois de misturar à grama verdinha que cerca o rio.
Como o negócio demorou, a mulher deu mais um trago no cigarro. Tudo certo por ali.
Na rua, olhares abismados e comentários em sussurros a culpavam pela sujeira na cidade. Não me misturei às vozes. Só conseguia olhar, com um sorriso no canto da boca e pensar sobre liberdade.
Ela fez xixi à beira do Capibaribe!
Fez uma coisa que eu bem queria ter feito, mas não posso, por ser moça bem criada, instruída e de boa família.
A mulher descalça tem algo que eu não tenho e, sem saber, cheguei a ter medo dela.
O medo passou.
Subi no ônibus e a deixei ali, de cócoras, admirando o rio enquanto fumava um cigarro.
Definitivamente, não é dela a culpa pela sujeira do Recife.
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