Saudade não é uma pesquisa nos cantos mais remotos da memória, nem vontade de lembrar o que a rotina faz esquecer.
Saudade é instante.
Agente está lá, de bobeira, acordando, tomando banho, andando de ônibus ou provando um tempero, quando ela chega. Veloz. Passa correndo, pega na mão do pensamento e voa com ele até onde bem entender.
Ultimamente, minha saudade é recorrente. Quando percebo, estou em São Paulo. Caminhando pelas calçadas sem risco da Av. Paulista, pelos largos corredores do Mercado Central, sentada perto dos patos, admirando o lago do Ibirapuera.
Amo aquela cidade. Se pudesse, moraria lá só para ter todo dia a segurança de caminhar à noite depois do teatro, de sair e voltar para casa sem medo de ser assaltada no primeiro sinal.
Não é a toa que a cabeça viaja tanto até lá. Mas hoje foi diferente.
Estava pintando uma caixinha de madeira – presente para voinha – quando, num passe de mágica, fui parar no jardim da casa de Zé da Rocha, na fazenda da Macuca.
Há anos não vou lá, mas lembro de cada detalhe. A casa cheia de espaços vazios, os móveis esquisitos do terraço, a falta de iluminação, a ponte, o caminho para bica e o riacho (únicos lugares onde era possível tomar banho), a barraca prateada armada no meio da noite, o cachorro pastor-alemão que vinha nos acordar logo cedo. Tenho tudo na memória.
Hoje, estava entre as flores. Aquelas cor-de-rosa, pequenas, iguais às do jardim da minha avó quando eu era criança.
Perto destas flores, tomamos café da manhã depois de uma noite de muita farra, deitamos na grama, jogamos conversa fora, cantamos, cochilamos.
As flores me lembram uma paz alegre e, na casa de Zé da Rocha, podem ser vistas até do banheiro, onde a parede de cimento abriu espaço para uma janela de vidro. Incrível! Coisas assim não dá para esquecer.
Mas não sei como fui parar lá hoje.
A saudade me levou. Tão rápido. Num instante.
07 maio, 2009
Num instante
Fotos: minha mesmo
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