13 junho, 2008

13 de junho


Para mim, por muitos anos, esse foi o dia de seguir as tradições e bater um papo sério com o santo casamenteiro. Na maioria das vezes rolava uma tensão na hora de fazer as simpatias. Algumas nunca faltavam.

Começava com os pingos de vela num prato branco. Eles caiam enquanto eu rezava e depois era só esperar até se juntarem e formarem uma letra. Resultado: a cada ano, um novo símbolo surgia na minha frente. Impossível decifrar uma letra daquilo. Esclarecimento zero!

No final da noite, antes de ir dormir, preparava a derradeira mandinga. Uma bacia de alumínio no sereno cheia de papeis dobrados boiando na água. Em cada um, o nome de um homem. Não precisava nem ser conhecido. “Pode ser que vocês ainda não tenham se cruzado”, explicava minha avó. No dia seguinte, mais decepção, pelo menos metade dos papéis estavam abertos. Afinal, com qual deles seria?

Mas minha preferida era a da aliança amarrada a um fio de cabelo. Aí vai rezando a Salve Rainha até a parte do “nos mostrai” e completa com “quantos anos faltam para eu me casar”. A resenha começava na hora de escolher a aliança. Já usei a de minha avó, da minha mãe e até a minha própria, quando já estava noiva. A cada tentativa, um susto.

Teve um ano em que a danada bateu duas vezes, fiquei toda feliz. Estava perto! Aí fiz no ano seguinte pra conferir que ia dar só uma batidinha. Danou-se. A bendita aliança parecia uma barata tonta a circular pela borda do copo. Girou e bateu tanto que cansei de esperar ela parar. Tirei do copo sem medo nem cerimônia. E comecei a pensar o que havia feito de errado durante o ano para acabar com o meu próprio casamento. Tentei ser uma menina melhor. A noiva perfeita. Quem sabe a sorte não me sorria novamente?

No outro ano, a pior das experiências: a aliança não se mexeu. Ficou lá, paradona... A mão chega deu câimbra e nada do cabelo dar sinal. Até assoprei de leve. Nada! Foi aí que desisti de perguntar a Santo Antônio quanto tempo falta para eu me casar. Meses depois, coincidência ou não, terminei um relacionamento que já durava onze anos.

De lá para cá, devota e afilhada que sou do santo, já pintei e bordei com a imagem dele. Esqueci por meses embaixo da cama, coloquei de cabeça para baixo dentro de copo d’água, da geladeira, escondi o menino Jesus... Mas também já tratei a pão-de-ló, acendi velas, fiz novenas. E hoje, apesar de ser uma “amancebada” muito feliz, não me casei de fato.

Talvez tenha sido por isso que nunca consegui entender nadinha do que o santo tentou me dizer todas as vezes que perguntei. Às vezes ele não dá aquilo que a gente pede, mas dá um jeitinho de arrumar o que a gente precisa.

8 comentários:

Leonardo Werneck disse...

Hahaha, adoro essas histórias de simpatias que vocês mulheres contam.

Nunca frequentei igreja por ser descendente de judeus, a única vez que fui[numa igreja de santo Antônio] foi pra me casar, mas o casamento foi meteórico, não sei se isso é sorte ou azar...rs

Beijos

Germana Accioly disse...

mack,

o problema é que talvez o santo não entenda estas formas "contemporâneas". Estes nossos namoros que são quase casamentos; estes nossos relacionamentos abertos, fechados, sem aliança de ouro.....
mas somos felizes. sei que somos.
Um beijo!

Mack disse...

Léo, Santo Antônio sabe o que faz... Acho que o meteórico foi sorte sim. :)

É, Gê, o coitado do Santo não é obrigado a entender tanta modernidade em relacionamentos. Deixei o caba doidinho, e mesmo assim ele me deixou feliz!

Beijo pra vocês.

Celle disse...

kkkk, e eu ainda pegava arrego nos teus nomes, pra fazer a minha da bacia...
Num sei porque as minhas também nunca deram certo??? hehehehe

Xêros

Unknown disse...

Perdi a oportunidade de fazer as simpatias esse ano. Minhas tentativas de pedidos ao santo casamenteiro tb deram com os burros nágua. Me "amancebei" uma vez, nem deu certo, mas esperança é a última que morre. É meio bobo, mas ainda quero entrar numa igreja de véu e grinalda.

Bjs.

Mack disse...

Adriana, não é bobo nada! É lindo, isso sim. Toda mulher tem seu sonho de casamento. O meu não é na igreja, mas sonho em ter um amigo abençoando minha união. Seria muito verdadeiro pra mim. Quem sabe o Santo não concede a graça qualquer dia desses?

........

Marcelle, se eu fosse tu, parava de seguir meus passos, que são a maior furada! heheheh

Beijo nas duas!

Anônimo disse...

Amiga linda! Amei o texto. Tú é f... "me acabei de rir"!
PS: Também tô no time das "amanceadas" e felizes!

Bjs
Cata

Madame Mim disse...

Adoro seu texto.
Tbém fiz lá minhas mandingas com Santo Antônio (e com outros santos tbém)>
Acho que tbém sou feita de fé, :).
Bjos