28 agosto, 2007

Pelas ruas

Foto: Léo

Eu adoro andar de ônibus. Há os que discordem, mas para mim esse é um ritual que ajuda o dia a começar. Os poucos minutos que passo sozinha lá dentro, mesmo cercada de pessoas, são suficientes para organizar as idéias, planejar as tarefas do dia, encontrar as pessoas dentro das pessoas. Alguns preferem usar o tempo da viagem para ler ou até dormir mais um pouquinho. Eu não. Gosto de sentar perto da janela e olhar o Recife enquanto o vento bate no rosto.

Pra começar, leio tudo, de outdoor à placa de carro. Vejo o movimento das paradas de ônibus, de quem atravessa a rua com cara de atrasado e daqueles que ainda nem sabem por que estão ali, mas já se misturaram à massa. Em muitos lugares dá até pra sentir um ar fresco, cheiro do mato que ainda resiste à poluição. Em outros, de trânsito mais ferrenho, melhor mesmo é prender a respiração e torcer pelo fim do congestionamento.

Ontem a viagem foi longa. Fui de Recife a Jaboatão em busca de um novo emprego. O tradicional frio na barriga me acompanhou durante todo o trajeto, enquanto eu pensava que tudo iria dar certo. E “dar certo” não significa conseguir o emprego, mas continuar feliz com o que faço.

Não gosto de ter trabalho. Gosto sim de ser repórter, de passar informações, esclarecer. Gosto do trato com as pessoas, dessa intimidade adquirida em tão curto espaço de tempo. Gosto de escrever, brincar com as palavras como quem executa um balé. Nada disso soa como trabalho, mas como prazer.

Por isso o receio de ir em busca de mudanças. Seria hipócrita dizer que aceito qualquer emprego só porque o dinheiro está escasso ultimamente. Eu não aceito. Não aceito sofrer por não conseguir administrar a vaidade de um cliente. Não aceito perder qualidade de vida por um salário mais alto. Meu espírito careta precisa ser livre ao menos profissionalmente.

Mas nesse caso, nem deu tempo de analisar se valeria à pena. Cheguei a Jaboatão e fui recebida por uma voz despreocupada do outro lado da linha, que me mandou ir amanhã. Catei as moedas na bolsa, subi no ônibus de volta a casa e paquerei o Recife, como de costume. No final da viagem, decidi que não iria lá novamente.

Acredito nas coisas que são nossas e nas que chegam à vida como quem vem numa caixa de entrega especial. Meu novo emprego está por aí. Quem sabe não aparece no próximo ônibus?

21 agosto, 2007

Tempo, tempo, tempo...


Desde pequena tenho a sensação de que não vou longe, que a vida para mim termina por volta dos trinta. Isso não me assusta, entristece ou enfraquece. Na verdade, isso não muda nada. É só uma sensação besta, como tantas outras e que, no máximo, me impulsiona a ser mais feliz hoje, porque amanha é distante demais e pode não dar tempo.

E se tem uma coisa que eu gosto nessa vida é do meu tempo. Por isso, não o gasto com nada profundo ou sério demais. Uso para ficar bem e ponto. Para batucar, ouvir as músicas que me fazem viajar, ler textos mansos e caminhar por essa cidade ensolarada. Gosto de parar para paquerar e conversar com quem puder: crianças, velhos, bichos - gente adulta e adolescentes me cansam. Prefiro a despretensão dos velhos, a verdade dos bichos e a coragem das crianças. Prefiro mesmo colher isso tudo em cada um deles e voltar pra casa feliz.

São esses encontros diários que fazem do meu tempo algo muito bom. E foi assim que passei esses 29 anos. Nunca quis ser a melhor jornalista, nem a mais gata do curso, nem a mais popular ou engraçada. Eu sempre quis apenas ser.

Não pensei que chegaria a tanto, nem que a vida estaria com esse molde quando beirasse os trinta! Mas aqui estou. Quase balzaquiana e ainda tão menina. Tão madura e tola. Tão ciente e perdida. Mas feliz, como sempre. Por isso, quero comemorar os 29 como quem comemora o primeiro e o último ano de uma vida, como sempre faço no dia 21 de agosto.

Quero abraçar meus amigos, ouvir a voz deles, lembrar de todos, até dos que moram mais longe e não vão sequer poder telefonar. Quero comer bolo de chocolate, assoprar velas, fazer pedidos para o futuro. Quero sambar em Casa Amarela, beber um pouco e cantar ao lado de Riva (tudo que mais sonhei nos últimos aniversários). Quero brindar meus 29 anos sem medo de não chegar aos 30, mas se chegar, quero tudo de novo!

16 agosto, 2007

Doutor da alegria


Manhã nublada, a sombrinha molhada na bolsa. O típico dia em que preferia ficar em casa, mas dessa vez não deu. Subi no ônibus já atrasada. Assim que entrei, aquela figura me olhava como quem me esperava há séculos.

- Tenho certeza que ela tem! – disse o homem dirigindo-se ao cobrador. Depois olhou pra mim e falou. – A senhora tem moeda? Dinheiro trocado?

Não respondi. Tirei do bolso as tais moedas que ele tanto esperava, paguei minha passagem e passei pela catraca.

- Deus lhe pague, moça. Eu já ia descer e o cobrador não tinha troco.

- Disponha. – respondi já caminhando para o final do ônibus.

Ele me seguiu. Acho que queria conversar mais um pouco antes de descer.

- Tô indo atender a um casal. Vou aplicar Reiki neles. Imposição de energia pelas mãos. Não toca, só mentaliza. Sabe como é?

- Já ouvi falar...

- Meu nome é Evaldo Gonzaga. Decore, moça. Evaldo Gonzaga. A senhora ainda vai ouvir falar de mim. Assista Faustão, no domingo. Se vira nos 30. Assista, viu?

- Tá certo. Vou assistir.

- Trabalho muito com Reiki. Ajudo as pessoas que estão doentes. Atendo gente no IMIP, no Barão de Lucena. AVC, leucemia, todo tipo de câncer. Eu vou lá e troco a energia com quem está precisando – disse, mexendo as mãos como quem finaliza uma mágica e vai tirar um coelho da cartola bem naquela hora. Depois continuou. – Mas a senhora sabe que eu não curo, né? Sou só o instrumento. Quem cura é Jesus. Acredita nisso?

- Acredito sim. A energia Divina com a de quem quer ser curado e você é o canal, certo?

- Isso mesmo. Vou fazer isso até o dia em que morrer, daqui a 32 anos. Vou trabalhar, depois vou dormir e morro dormindo. Mas antes, vou me casar. No dia do meu aniversário esse ano, 27 de setembro, vou conhecer uma moça com 23 anos, o nome dela começa com a letra G. Qual o nome da senhora?

Pela primeira vez ele venceu minha sobriedade e eu sorri.

- Não começa com G - respondi.

- Não? Nem tem 23 anos?

- Também não.

- A gente já está em setembro?

- Ainda não...

- Então, definitivamente, não é a senhora! – reconheceu com um leve ar de decepção. - Ela vem do interior e tem três filhos.

- Mas já? Três filhos! Tão nova...

- É que casou aos 13. Ela é linda, mas agora o marido não valoriza mais isso. Ela vem para o Recife e vai casar comigo. Vamos viver juntos até o dia da minha morte.

Ele contava a história de seu futuro cheio de certeza, como quem recorda um livro que acabou de ler. Em nenhum momento desviou o olhar, porque sabia que eu estava mesmo prestando atenção.

- E quem te contou tudo isso, Gonzaga?

- Soube agora, conversando com a senhora. Eu me pergunto coisas e as respostas simplesmente vêm. É sempre assim. Desde que a senhora entrou no ônibus, com esse óculos tão bonito, eu sabia que estava com as moedas.

- Eita. Tenho cara de pobre mesmo, né?

- Não. Tem cara não. E mesmo se tivesse. Pobre de dinheiro é rico de vida. Faço isso tudo de graça, sabe? Não gosto de dinheiro. De onde eu venho a gente não precisa dele, mas aqui, às vezes tenho que usar. – e continuou – Os dons que a gente recebe de Deus, devem ser devolvidos de graça, senão ele não gosta e tira o dom da gente.

Depois de me deixar sem palavras, Gonzaga deu um salto e olhou para a rua.

- Cobrador! Perdi a parada? É nessa, não é?

Recebeu o sinal positivo do cobrador que estava lá na frente, me olhou nos olhos e se despediu.

- Prazer em conhecer. Não esqueça de ver Faustão no domingo. Que Deus lhe acompanhe.

- Amém.

Assim que desceu, uma moça que ouviu toda a conversa comentou.

- Esse aí precisa urgente de um psiquiatra!

Eu ainda estava encantada por ter recebido de presente aquela figura numa manhã nublada e não tive outra opção senão defender meu mais novo amigo.

- Precisa nada. Ele está mais curado que todas nós. Aprendeu a ser feliz pra sempre.

- É acho que aprendeu mesmo.

14 agosto, 2007

Ciúmes


O quanto ela resistiu, ninguém sabe. O fato é que sentiu um misto de pavor e demência quando percebeu que havia entregado os pontos.

Estava de bobeira, passando o tempo na livraria quando o viu de relance caminhando entre as prateleiras. Quanta coincidência! Se soubesse o teria chamado para almoçar. Como não lembrava de nada importante para conversar, terminou de ler com cuidado a orelha do livro que tinha em mãos. Resolveu levá-lo. Antes de ir ao caixa, foi ao encontro do amigo para um cumprimento cordial.

Ele estava de costas e não a viu chegar, mas ela viu bem quando ele arrancou verozmente com o olhar a calça jeans da loira que passou na sua frente. Naquela visão, mil lembranças. Os olhares e beijos trocados sem compromisso, a insegurança, a amizade e uma ira inexplicável. Um queimor com ares de traição lhe deixou o rosto rubro e a alma com sede de vingança. A razão se despedia do seu corpo a cada passo dado em direção a ele que, no lugar do cumprimento, recebeu um beliscão.

A ira transformou-se em vergonha, que se traduziu em sorriso no rosto dos dois. Ele, porque sabia o motivo da repreensão. Ela, porque não acreditava que havia protagonizado uma cena de ciúmes. Logo com ele!

E numa fração de segundos, como quem precisa esconder-se do perigo, ela se foi. Abandonou o livro pelo caminho e saiu dali sem dar chance de qualquer aproximação. Ele continuou no mesmo lugar, a vendo ir embora e sorrindo, como quem saboreia uma conquista, grande vencedor da batalha dos sexos.

13 agosto, 2007

As aventuras de Geraldo


PARTE II

Cores, pessoas, velocidade. Assim era o Recife. O que Geraldo não esperava é que, de tão grande, a cidade já seria um mundo em potencial. Era carro e ponte que não acabava mais. “Lembra Veneza, mas faltam as barcas”. As pessoas também eram muitas e estavam sempre com pressa, esbarravam umas nas outras, mas não se enxergavam. Geraldo tentou se aproximar de algumas, elas não davam muita conversa, tinham sempre algo importante para fazer. E assim ele ficou, passeando, contemplando, encantado por, finalmente, viver uma história real, onde ele era protagonista entre tantos personagens.

No final do dia, o andarilho encolhia-se em um lugar coberto e descansava até o sol raiar. Nesses instantes de tranqüilidade e solidão, pensava como seria bom ter ainda mais experiências para contar.

Com o tempo, quando sentiu vontade de mudar de ares, o dinheiro que carregava acabou e ele não podia pegar outro ônibus. Também não tinha mais como se alimentar e começou a pedir ajuda nas ruas. Geraldo não queria voltar para casa, queria ir em frente, mas a viagem se tornava cada vez mais difícil. Foi quando adoeceu. Uma tosse que não o deixava mais dormir, muito menos sonhar. “Já tive dias piores”, pensava, tentando amenizar a dor.

Um dia, uma assistente social do posto de saúde o encaminhou à emergência do Hospital Psiquiátrico Ulisses Pernambucano, a Tamarineira, como é conhecido. Foi lá que o encontrei, durante uma pesquisa sobre saúde mental. Ele apresentou-se como Juscelino, o presidente. Eu sorri. “Oxente, Excelência, o senhor por aqui?”. Ele sorriu de volta e confessou a mentira. “Sou eu não moça, doutor Juscelino morreu. Mas eu sou mais inteligente que ele. Sei falar 23 idiomas e conheço o mundo todo. Olhe, quer que eu fale em francês?”.

Pedi que conversasse em português mesmo, porque seria mais fácil pra mim. Em poucos minutos Geraldo me contou algumas de suas andadas. Cada história vinha com um olhar diferente. Uma emoção para cada experiência vivida. Ele estava feliz. Naquele jardim imenso havia lugar demais para ele ir, além de vários companheiros de viagem dispostos a embarcar em suas fantasias. “Aqui é bom, Geraldo?”. “Aqui? Não! Bom mesmo é na Rússia. Cheguei de lá ontem”.

Tive que me despedir. Era hora da entrevista. Enquanto caminhava pelos largos corredores do hospital, percebi nos olhos de muitas daquelas pessoas que não elas estavam mesmo ali. Deveriam estar dando uma voltinha por algum lugar do mundo, um lugar mais feliz.

Na Tamarineira, não há paredes.

O fantástico mundo de Geraldo


PARTE I

Geraldo sempre foi muito esperto. Desde criança, ele lembra, prestava atenção em tudo: na conversa dos adultos, nas propagandas na televisão, nas histórias que ouvia pelo rádio. Queria aprender tudo que houvesse no mundo, por isso, preferia ficar lendo em algum lugar tranqüilo a jogar bola com os outros meninos do bairro.

Em Lagoa dos Carros, cidade onde morou a vida inteira, não havia muitos livros disponíveis. Quando ele terminou de devorar o acervo da biblioteca da escola, resolveu que leria todos novamente. “De trás pra frente agora, para ver a diferença”. E assim prosseguiu. Em seu mundo, mesmo nunca saído de Lagoa, ele conhecia Paris, Egito, Estados Unidos. E melhor! Participou das Cruzadas, das duas Guerras Mundiais, conheceu importantes faraós e foi um dos discípulos de Cristo.

Quando terminou os estudos, Geraldo decidiu o que faria da vida, e como não podia viajar pelo mundo inteiro, negociava livros usados pela cidade. Ele os carregava em uma carroça e fazia ponto no meio da praça para esperar os fregueses. Lá, passava o tempo mergulhado em suas fantasias e continuava se preparando para o dia em que faria uma longa viagem.

Todos na cidade sabiam de seus planos e de tudo que garantia já ter vivido. Alguns se divertiam com tantas invencionices e iam vê-lo diariamente só para saber qual seria a mais recente aventura do andarilho. Outros preferiam nem passar por perto da carroça para evitar serem vítimas de mais meia hora de conversa fiada.

Suas descobertas eram especialmente compartilhadas com a mãe, Dona Alva que, analfabeta, orgulhava-se de ter um filho tão estudioso. O marido havia falecido quando Geraldo ainda era bebê. Ela criou o filho sozinha e, de certa forma, fazia parte do universo encantado que ele havia projetado. No dia em que ela morreu, Geraldo perdeu sua grande companheira e, solitário, tomou a decisão mais importante de sua vida. Numa manhã de sol morno, em plena segunda-feira, ele não levou sua carroça à praça. Pegou o primeiro ônibus rumo ao Recife. Seria lá a primeira parada de sua viagem pelo mundo.

02 agosto, 2007

PAN e TAM

Estive pensando na mídia e no quanto ela é falsa demais para se deixar admirar. A gente precisa dela, a danada nos alimenta de informação e cultura, mas as doses não somos nós que escolhemos. Ela sai vomitando o assunto do momento e se a gente não tomar cuidado, acaba pensando que a vida real é aquilo que cabe dentro da TV.

Julho foi um mês especialmente interessante de ser avaliado. Pra começar, a violência. Durante mais de dois meses antes, a cidade maravilhosa que iria sediar o PAN, parecia viver uma guerra civil. A grande preocupação do governo e da polícia do Rio era garantir a segurança dos atletas, turistas e tudo mais. O pavor e a violência entravam em nossas casas pela televisão mesmo, bem na hora do jantar, todo santo dia!

Até que começou o PAN e, milagrosamente, nenhuma notícia sobre tiroteios entre traficantes e policiais no meio da rua foi divulgada durante o mês inteiro! O Rio virou uma terra feliz, comemorando a escolha do Cristo como uma das sete maravilhas do mundo, um lugar perfeito, com uma vila olímpica irretocável e humanos com dons de heróis se superando e fazendo seus paises se orgulharem. Nas favelas, nenhum tiro foi ouvido (pelo menos pela TV).

Quando o assunto medalha de ouro já estava se tornando cansativo, uma tragédia fez a imprensa salivar. O desastre com um avião da TAM voltou a dar o tom de crítica aos noticiários, e claro que a culpa era de Lula! E aí se vão mais dias e dias, entre investigações e medalhas, mas sem nenhuma vítima da guerra do tráfico.

Ontem, no jornal da noite, soube de mais novidades. Ao ouvirem os dados da caixa preta do avião, os deputados descobriram que o acidente não foi culpa de Lula, parece que o freio que fica na asa não funcionou. Caso encerrado. Na matéria seguinte, uma repórter se perguntava quantos teriam morrido durante o mês nas favelas cariocas. Os números ainda não foram divulgados pela polícia. Mas no avião da TAM morreram 199 e para quem quiser saber o quadro de medalhas do PAN, é só acessar a página da Globo, o Brasil ficou em terceiro lugar. Está tudo lá.

Acho que agora, as notícias nossas de cada dia voltam ao seu lugar.

Presentes

Foto: Catha (mãe de Davi)

As férias acabaram e eu praticamente não percebi que elas aconteceram. Duas semanas e nada novo. Nenhuma programação fabulosa, nenhuma aventura, farras quase inexistentes. Dias de puro sossego (com exceção dos períodos agitados pela energia infinita das crianças ocupando todos os lugares da casa). Mas no meio de tudo isso vivi momentos lindos e a maioria envolvendo minhas amigas.

É sempre tão piegas falar delas. Soa tão bobo, tão lugar comum... Mas é assim que sinto, como se elas fossem a grande força que me revigora, um impulso, uma alegria sem fim, a única chance de ser eu de verdade sem medo de não ser mais amada.

Perceber que os anos passam e estamos cada vez mais próximas, conforta minha alma, me dá paz. Ver os amores chegarem, as famílias se formarem, as carreiras se solidificarem, os filhos nascerem... Estar do lado na comemoração da casa nova, conhecer o novo namorado, compartilhar conquistas e perceber que agora não entendemos mais tanto assim de baladas, mas sabemos muito sobre cozinha e até sobre mamadeiras.

A gente cresceu! Agregamos, trouxemos mais gente para nossas vidas, mas sem esquecer quem está na base, quem conhece nosso segredo mais obscuro, quem nos reconheceria entre mil pessoas só pelo jeito de escrever, pelo pedido na mesa do bar, por cada uma de nossas escolhas. Às vezes nem nos surpreendemos mais, e se um dia percebemos o imprevisível, parece que o amor fica ainda maior! Com a gente, até as brigas são fantásticas, porque foi assim, batendo de frente, que ajudamos a outra a amadurecer.

Posso dizer sem medo que o melhor dia de minhas férias foi esse aí, na casa de Catha, todas juntas. As vidas cada vez mais diferentes, os destinos levando algumas para bem longe e a gente encontrando um dia no ano onde podemos ser só uma da outra, sem hora pra acabar. São esses raros encontros que me dão a certeza de que pelo menos uma coisa nessa vida é eterna.

Ai, como é ótimo ser piegas!