07 abril, 2009

Páscoa feliz



Sou filha de uma mãe cujo lema era se virar como desse para garantir um dinheirinho no final do mês. Ela trabalhava como bancária, mas a principal atividade era mesmo a de vendedora. Minha casa era praticamente um depósito de cosméticos, tuperware, roupas e bugingangas vindas de Manaus, Caruaru ou Santa Cruz do Capibaribe.

A Páscoa, então, era sinonimo de alta produção. A casa inteira se transformava em oficina de chocolate. Tudo começava na cozinha, raspando a barra em cima do mármore, jogando tudo na panela, mexendo em banho-maria. De lá, direto para as forminhas de todos os tamanhos e formatos dos mais curiosos. Claro que tinham ovinhos e coelhos, mas não faltavam os modelos românticos (nem os safadinhos).

Quando tudo saia da geladeira, era a hora de ficar “respirando” numa mesinha no terraço. Todos os chocolates, brancos, pretos, com flocos e castanha, distribuidos como numa vitrine, pedindo para serem devorados. Para duas crianças, não meter a mão era o maior dos sacrifícios. E claro que tínhamos as nossas técnicas para driblar a vigilância e nos dar bem. Depois, era só acompanhar a embalagem em papéis e fitas coloridas.

Mainha confiava tanto em mim, que sempre me dava uma leva para vender na escola. Levava-os num isopor, vendia às colegas e professoras e não comia nenhum. À noite, quando entregava o apurado, podia escolher qualquer um para mim.

Há muito tempo o hábito mudou. Compramos os ovos prontos. Lá se foi a magia.

Até que esse ano, resolvi reviver a história, mas saindo do papel de espectadora para o de protagonista. Comprei a barra de chocolate, as forminhas (bem mais modernas que as de minha mãe), papéis coloridos e fitas.

As novas técnicas deixaram o trabalho bem mais ágil, mas não menos delicioso. Após uma breve consultoria telefônica com minha mestre, estavam prontos os ovos para as crianças. Dentro, um toque pessoal com fotos deles e votos de feliz páscoa. Embrulhei com cuidado, passei a fita e o adesivo com cara de coelho.

Lá estavam minhas obras de arte dignas de uma foto, à espera de seus donos. E como uma arte deste tamanho merece um retorno intelectual à altura, foi isso que tivemos com a pergunta de Riva.

- Nossa! Tem uma foto tua! Como será que ela foi parar dentro do ovo?

- Dããã, papai. Pensa que eu não sei que tu ligou pra fábrica e mandou a foto pra eles?

É, acho que o ovo caseiro foi aprovado.

2 comentários:

Bárbara disse...

Mackinhaaaaaaaaaa fiquei com agua na boca!!! Se soubesse disso antes tinha encomendado 4 pras minhas crianças de itaparica!! tô indo passa a páscoa com eles e queria só ver a carinha delas quando visse a fotinho dentro do ovo de páscoa!!!
mas se aceitar encomendas pro ano que vem, já pode começar a lista!!!
Beijoooooooooooooo

Germana Accioly disse...

kkkkkkkkkkkkk
que história DIVINA!!!!!!!!!!!
parabéns, querida! vc fez chocolate virar magia.
bjo