16 março, 2009
De sol a sol
Sou viciada em praia. Basta ver que o dia vai ser de sol, pra ficar igual criança tentando convencer Riva a me levar. Mesmo não estando afim, ele é quase sempre vencido pelo cansaço, e me dá de presente um dia de calor, caldinho e raspa-raspa.
O lugar é sempre o mesmo, no Pina, onde o movimento é mais tranquilo. Escolhemos duas cadeiras com cara de resistentes, um guarda-sol simpático e nos acomodamos. Aí, é só olhar as esquisitices dos outros e inventar o que comer. E como eu como!
São tantos caldinhos, ovinhos, picolés, queijos, abacaxi cortadinho (ai, delícia!), que a gente até já fez amigos comerciantes. Gente feito Tião, o gordo do caldinho e o tunisiano, que atravessou o oceano para morar em Brasília Teimosa e ter uma vida melhor.
Um povo trabalhador, que não se deixa abater pelo sol torrando a moleira e queimando ainda mais a pele grossa e escurecida. Uma gente sempre com uma graça a dizer, uma história nova e um sorriso no rosto. São eles e o barulhinho das ondas que, juntos, fazem da praia o melhor dos programas.
Semana passada minha alegria, por pouco, não foi por água a baixo. A prefeitua resolveu tirar, de uma hora para outra, todos – sim, eu disse todos – os ambulantes das praias do Pina e de Boa Viagem. Ou seja, nada de cadeiras na areia, ovo de codorna, queijo coalho, caldinho de peixe e feijão.
Tirar os vendedores da praia é como tirar a própria diversão.
Sim, porque a gente já não pode tomar banho de mar, por causa dos tubarões; também não pode ficar se bronzeando fora do guarda-sol, por causa do câncer de pele; e aí dizem que a gente tem também que abrir mão dos nossos petiscos e ficar um dia inteiro sem comer, sem mar e morrendo de calor.
Agora, diga, quem mais iria à praia nessas condições?
Definitivamente, perdi a vontade... Assinei minha demissão praiera.
Até a prefeitura (que, até onde eu sei, é popular) perceber que havia tomado uma péssima decisão e resolver mandar meus colegas de volta ao trabalho.
Ontem estive lá para conferir se tudo está mesmo no lugar, e adorei o que vi. A praia cheinha. Do jeito que eu gosto! Aquele buruçu de gente colorindo a areia. Os meninos com as pipas, outros jogando bola, o biquine fio dental mostrando até o que não merece ser mostrado e, por toda parte, vendedores felizes.
Comprei o caldinho de peixe de Dona Francisca. O picolé Milet do senhor politizado que reclama do aumento dos preços e da queda nas vendas. O ovo de codorna e o amendoim do rapaz simpático, satisfeitíssimo com a regularização do seu trabalho.
- Vai ser bom agora, né? Vamo até ter farda...
Verdade. No calçadão, os comerciantes fazem fila para se cadastrar.
Conferido o território, voltei para casa, de coração tranquilo e barriga cheia. Tudo de volta ao normal na minha praia preferida.
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Um comentário:
ahhhhhhhh!!! precisava gritar, amiga! falasse de tudo o que mais sinto falta morando aqui em Arcoverede: a praia! ai, ai, ai,que saudade que dá! Tu lembra que eu sempre fui sol? Amo essa luz que esquenta minha pele, que me dá força de acorda todos os dias... mas melhor ainda me levar a praia com todo esse ritual que me é permitido!E eu sempre o fazia e era contigo.Sempre era nosso melhor programa do final de semana, pode ter certeza!
Menina, também fiquei indignada qdo vi essa historinha da prefeitura, que loucura, praia sem meu caldinho de feijão, não existe. Pelo menos, não a minha (nossa) praia, a de BV.
Estou morrendo de felicidades, que nada disso vingou, porém com os olhos marejados de saudade de curtir isso tudo!
huahuahaua! beijo no coração
Te
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