Há meses tentava engravidar e não conseguia. A situação já beirava o trauma quando tivemos a grande idéia: adotar um cachorro. Algo bem pequeno, que não nos desse muito trabalho e pudesse me deixar mais tranqüila para gerar o esperado filho.
Após semanas de procura vã, recebemos a notícia de que “ela” havia nascido. Chegou aos meus braços, embrulhada em uma toalha de rosto, uma coisinha preta, com manchas brancas no pescoço, focinho e patas. Era peluda e pequena como eu queria, mas desde a primeira noite experimentei o cansaço da maternidade. Diferente do que esperava, ela dava trabalho! Seguia os meus passos por toda a casa, se desse meia volta, pisaria nela. Só dormia encostada em mim, se eu saísse, começava o berreiro por mais carinho. Passávamos tanto tempo juntas que chegava a sentir seu cheiro mesmo quando ela não estava por perto.
Como qualquer filho, escolher o nome foi uma ciência. E como logo vi que ela seria única, resolvi lhe dar um nome à altura: Isaltina, a cachorra enlouquecida. A criatura mais eufórica, alegre e incansável que já cruzou o meu caminho. Passaram dias, meses, anos... O escândalo pela vida só aumentava. Com tanto carisma, não demorou em se tornar um membro da família e o xodó dos apaixonados por cachorro.
Tinha verdadeira tara por garrafas pet – mantinha várias espalhadas pela casa e quase sempre carregava uma na boca, para poder morder o dia inteiro. Sua tendência cômica era agravada por um erro no corte do rabo, que fez com que ela nunca conseguisse balançá-lo. Sempre que tentava, era ele quem sacodia o resto do corpo, que se arrastava pelo chão em forma de “u”.
O tempo passou e Isa cresceu, cresceu muito. E ocupava espaço demais na vida de todos lá em casa. Ganhou o próprio sofá, livre acesso a todos os lugares, sentava ao centro de qualquer conversa de família, recebia com festa e se despedia dos convidados, almoçava conosco, assistia às novelas aos pés de voinha, circulava pela cozinha para filar as sobras dos preparos, dormia e acordava tarde, como todos nós.
Uma vida sedentária, que lhe deixou obesa e agravou seu problema cardíaco. O cansaço era constante nos últimos anos e a gente costumava dizer que morava uma Toyota na garganta dela. Em dezembro, Isaltina completou sete anos e, no começo desse mês, aparentou mais cansaço que o de costume, e uma estranha moleza no corpo.
Sabe-se lá porque razão, na última visita que fiz a casa de minha avó, sabia que estava vendo Isa pela última vez. O eufórico coração de Isaltina não agüentou e, na semana passada, ela não acordou.
Na família, um dia de pranto, desconsolo e muita saudade. Na casa, um silêncio incomum, uma calma inquietante, um vazio sem compensação. Na gente, o tempo parado, o pensamento longe, seguindo as lembranças de uma cachorra-louca, que nunca mais vai nos fazer sorrir...
6 comentários:
Oi, Mack. Estive aqui esperando você voltar a escrever quase todos os dias. Ainda bem que você voltou mesmo! Sei como é perder um cachorro. Quando morava em Fortaleza, tinha um carinho especial pelo Tubarão e pelo Tango. Quando os dois se foram, senti isso mesmo que você descreveu. Um vazio, um silêncio. No meu caso, Tubarão e Tango me acompanharam nas brincadeiras de criança. Eram como "amigos da rua" que, de uma hora para outra, partiram. E não tem essa história de "compra outro cachorrinho que resolve". Um novo animal pode até nos trazer muitas e novas alegrias. E traz mesmo. Mas o espaço deixado no coração da gente por um cachorro companheiro que se vai é só dele. De nenhum outro. Seja bem-vinda de volta e vê se não demora tanto para escrever de novo. :) Beijo,
Dante.
É...
Difícil perder alguém tão querido em nossas vidas. Em março passado perdi um grande amigo, o Max. Fiz de tudo pra salvá-lo, mas ele estava bastante doente. Sei perfeitamente a dor que sentes e chego a sentí-la daqui. Esses seres peludos fazem a alegria da gente e fazem falta quando se vão... e como fazem!
Fiquei até um pouco constrangido em vir comentar esse post porque hoje mesmo comemoro o primeiro ano do Cadu, filho do grande Max.
Fique bem.
beijos
eu tive divina. uma cadela boxer amarela, olhos doces, companhia leal.
Chegou lá em casa pequena, me elegeu como dona. nos elegemos.
vivemos anos e anos de cumplicidade. fiz seus partos, cuidei se seus filhotes.
Até que eu casei, fui morar num apartamento minúsculo.e tive os meus filhotes. ela não me acompanhou. Divina não aguentou a solidão das visitas semanais e decidiu fugir.
saiu da minha vida à francesa.
Pessoas queridas! Que bom voltar e já ter todos vocês por aqui pra me receber. Amei as visitas, mesmo pq, depois de tanto tempo afastada, seria mais do que compreensivo que ninguém acreditasse mais nesse blog. Agora devo ficar firme nos textos mais um tempo!
Quanto à Isaltina... acho que será minha última cachorra-amiga. Não pretendo ter outra, mas o carinho trocado vai ficar pra sempre.
Texto lindo e comovente.
Quem iria gostar muito é Leonardo. Minha mãe nunca me deixou ter nenhum animal de estimação, deve ser por isso que não sou muito ligada em bichos, mas acho lindo o amor que as pessoas sentem por eles, é como se fossem da família.
Bjs.
Adoro cachorros.
Tenho uma muito lindinha, chamada Sascha, que mora com minha família.
Quando meus outros cachorrinhos morreram, sofri muito.
Então me emocionei lendo esse texto.
Olhe só, eu acredito que existe um céu para os bichos, um céu exclusivo.
A Isaltina deve estar por lá com meus outros cachorros.
Beijossssss!
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