24 janeiro, 2007

Batuque


Adoro palco! Desde cedo soube ter nascido para o mundo. Jamais seria dessas pessoas que se infurnam em um laboratório para fazer estudos, ou do tipo que vive avaliando a teoria dos outros para formular ainda mais teorias. Não! Meu negócio é a prática.

Sou especialista em gente. Em deixar gente feliz, admirada, confusa, mexida. Gosto do poder de transformar pessoas. Transformar pessoas tristes em alegres; descrentes, em esperançosas; amargas, em verdadeiros docinhos. E mesmo não sendo uma pessoa com muitos talentos, sempre encontrei um jeito de fazer a diferença.

Sim, tenho cá o meu charme, mas não sei cantar, sou meio desengonçada para dançar, e tocar algum instrumento, então! Houve um tempo em que pensei ser impossível! Sempre gostei mesmo de escrever, e tinha uma especial cara de pau para fazer qualquer coisa que pedissem sem sentir um pingo de vergonha.

E foi assim que resolvi mexer com as pessoas por meio das palavras e do teatro. Deu certo. Todo mundo se emocionava e se divertia. Mexer com gente é como brincar de ser Deus, ou melhor, é saber que só se faz isso com a autorização Dele. Por isso, me orgulho tanto.

Ultimamente resolvi arriscar um pouco mais. Atravessei uma alfaia em meus ombros e saí por aí, encantando de crianças a velhos. É fantástico perceber o sorriso nascer de faces curiosas. O som não é harmônico, nem suave, nem comum. Mas alguma coisa no sangue de todo brasileiro faz a nossa memória genética dar sinal quando ouve o bendito batuque.

Nossos antepassados estão ali, nossa história, e melhor, nosso presente. A felicidade de sacodir mesmo sem saber dançar, de entrar na brincadeira, de não pagar ingresso, de seguir e parar quando bem entender. Enquanto vejo esse monte de gente acompanhar um batuque, esqueço das dores no corpo e dos calos nas mãos. Esqueço de tudo!

Esse fim de semana, passando em frente a uma pousada, o grupo recebeu a companhia de um turista europeu, vestido de roupão de veludo vinho, fumando um charuto e calçando uma sandália de couro. Sem falar dos bebês, dos idosos, dos curiosos... cada um com seu encanto, com sua paixão...

E eu aqui, feliz, por ver isso tudo e pelo grandiosos poder de transformar as pessoas.


Sem isso, nada faria sentido.

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