08 abril, 2008

Simplesmente, mais uma.


Acordo. Amo Riva. Lavo a roupa, deixo os pratos para mais tarde – talvez amanhã. Trabalho no mesmo lugar há anos. Cumprimento a todos com educação e certa distância. Ligo para minha mãe e para as amigas (se der tempo). Falo rápido com voinha, conto as novas à Marcelle.

Faço compras. Não vou à igreja. Nego esmola. Temo crianças em sinais. Faço farras. Não conto piadas. Adoro ouvir histórias. Não sei cantar, mas canto assim mesmo. Às vezes bebo demais. Outras tantas faço besteiras, a maioria perdoáveis. Tenho ressaca.

Minha cara é de índia. Olhos puxados demais. Boca grande demais. O cabelo sem tinta. O rosto que todo mundo conhece alguém “igualzinha”. Não sou alta, nem baixa. Não sou gorda, nem magra. Não sou chata, nem tão simpática assim. Sou exibida, mas moderada pelo bom senso. Minha voz não é bonita, mas sei ser sexy quando necessário. Não sei falar inglês, mas brinco com meu idioma como poucos. Nunca andei de avião, mas uma vez fui de navio a Fernando de Noronha. Adio filhos, carro, viagens à Europa.

Sou bicho da noite. Adoro sambar. Fico em casa. Não faço regime. Faço brigadeiro. Assisto a filmes. Admiro os heróis. Me emociono com a caridade, o desprendimento e o voluntariado. Desligo a TV. Ligo o despertador. Amo Riva. Durmo aconchegada e feliz.

Para muitos observadores, uma vida mediana. Para mim, a que eu escolhi e lutei para ter. E agora preciso citar Dante Accioly:
“Fui bombardeado pela insegurança, pelo conformismo e pela desambição. E aceitei esse bombardeio placidamente. Deixei que os dias me transformassem nisso que sou agora. (...) Medíocre, apenas. Simplesmente, mais um”.

E sabe o que é mais grave? Mesmo percebendo nela certa tendência à mediocridade, ela não me incomoda, nem me move. Sou estática por natureza. Sem feitos notáveis na infância; uma adolescência conturbada como qualquer outra; a maturidade chegando mansa. Só os grandes sacolejos me tiram do lugar. No mais, a vida me leva e eu confio que a estrada será tranqüila e trará os devidos presentes e agruras.

Meu caminhar é ordinário, compassado. As chegadas, intermediárias, nunca em primeiro lugar. Os resultados, sempre melhores que o esperado. E é bem assim que eu gosto. Será um grande pecado não desejar ser notável?

A Dante, por me levar a pensar...

6 comentários:

Dante Accioly disse...

Não é pecado não desejar ser notável, Mack. É notável não desejar ser notável. Tenho ruminando isso há alguns meses. Talvez um dos fatores que torne a vida de muitos medíocre (a minha, pelo menos) seja justamente buscar a própria realização no reconhecimento do outro. Há alguns anos, o que me realizava profissionalmente passou a soar completamente desimportante para mim. Desde então, sou mais ou menos um vácuo. Estou perdido. Sem rumo. Nessa ausência de parâmetros, às vezes tento fazer do reconhecimento alheio o reflexo de minha própria satisfação. E isso é medíocre. Mas ainda sou novo. Um dia aprendo. :) Belezura de texto, Mack. Beijo grande e muito obrigado pela visita à "Página em Construção".

Princess Deluxxe disse...

quem disse q vc é passiva? ao contrário, vc briga muito pelo q quer, basta ter certeza...
amiga, bobagem dos outros q sonham em ser importantes. num mundo com milhões de pessoas, basta sermos fundamentais pra uns poucos - aqueles q amamos. do resto, impossível dar conta.
bjosss saudosossss

Germana Accioly disse...

deixa de ser linda por dentro e por fora, mulher!!!!! beijo!

Leonardo Werneck disse...

http://blogsoundofsilenceblog.blogspot.com/

Mudei o endereço do meu blog, atualiza aí!!!

Unknown disse...

Claro, todo mundo quer ser notado na vida. Mesmo quem diz não.

Adoro seus textos. São de uma sinceridade e sensibilidade com uma simplicidade de quem sabe viver e enxergar os mínimos detalhes da vida.

E sempre que passas no meu blog ou no blog do meu amado (rs), sempre tens uma palavra de carinho e sabedoria para compartilhar.

És realmente uma pessoa bela. Quero sua fé.

Bjs.

Madame Mim disse...

Oi, Mack...adorei esse texto.
Tbém li o post do Dante.
Beijos!