Foto: meu amigo Léo
Há dias em que nem estou. Trabalho, bebo um suco, atravesso a rua. E mesmo assim, não estou. Fico só pensando em onde estaria se...
Se tivesse estudado mais ou arriscado mais. Se tivesse chegado um pouco mais cedo ou esperado mais um instante. Se não tivesse amado tanto, nem temido tanto, nem escrito algumas palavras. Se fosse um pouco menos honesta, um pouco mais ambiciosa, ou mais sisuda. Se tivesse feito diferente, onde diabos eu estaria?
É em dias assim, quando não estou, que dedico o tempo a inventar futuros. Todos impossíveis, fantásticos, mas que cabem perfeitamente na minha história. Nesses dias me transformo numa menina criativa em seu mundo encantado. Sou pura imaginação e nostalgia de falsos momentos.
Às vezes moro em um apartamento grande e antigo, com uma penteadeira cor-de-rosa no canto da sala, almofadas floridas pelo chão, fotos dos amigos pelas paredes e um gato gordo e amarelo dormindo encostado à porta da cozinha.
Em outros dias, estou toda encasacada, usando um gorro vermelho e um lindo cachecol de fios dourados. Viajo de trem pela Europa acompanhada de um grande amor. Estamos de férias.
Também posso dar aulas numa universidade. Sou poliglota e doutora em comunicação. Há anos não vou ao Brasil. Quem sabe ano que vem não levo as crianças para visitarem a avó?
Eu poderia ter sido tantas mulheres. Na verdade, seria uma só, mas as opções são diversas. Claro, SE eu tivesse feito alguma coisa diferente no caminho... Sei de cada atitude que me levaria a esses destinos, de cada lugar onde poderia estar. Mas na hora não sabia! Queria ser livre e não me comprometer. E sou! Mais livre impossível! E agora?
Agora queria estar no aeroporto. Talvez embarcando para Salamanca, ou Madri, ou Berlim. Queria ir longe! Mas ainda estou aqui. Uma jornalista, solteira, meio sem teto, com alguma grana sobrando, mas morrendo de medo de me comprometer com meu futuro. Morrendo de medo de perder o que nunca conquistei. Vivendo de ilusão...
É, definitivamente, hoje, eu ainda não cheguei!
É, definitivamente, hoje, eu ainda não cheguei!