Ela estava brincando e meio desatenta quando me chamou de mãe. Mas eu não, quando percebi que aquele momento chegou.
Para mim, a expressão foi a mais séria que já ouvi. Representava tudo que construímos desde o primeiro olhar, tão reticente e comedido. Ela me deixava insegura, em pânico. Como era possível? Tão pequena e desafiadora. Tão verdadeira e decidida. Sempre me encarou. Nunca me temeu.
No dia em que senti que éramos amigas, quase não durmo. Não importava o que acontecesse ou onde estivéssemos. Entre nós havia cumplicidade e confiança.
Não lembro quando, finalmente, desarmei. O instante em que pude sorrir ao vê-la chegar, porque passei a sentir alegria no lugar do medo. Medo de errar, de deixá-la se machucar, de não fazê-la feliz, de não ser boa o suficiente...
De certa forma, há muito tempo já me sentia um pouco “mãe”, mas não o seria enquanto ela não oficializasse essa situação. Partiria dela o comunicado solene do nascimento de uma nova relação. E sempre estive ciente de que talvez aquele momento não chegasse nunca. Até que ele ecoou...
Olhei desconfiada. Achei que era um lapso infantil. Não era! Ela falou, e falou de novo, e muitas outras vezes. Naquela palavra minúscula, meu espírito materno aguçado. O sonho de cuidar de um filho - adiado por minhas próprias escolhas. A consciência de não ser sua mãe de verdade, mas de ter o coração aberto pra sê-la durante o tempo que ela quiser, em todas as horas que precisar, e nas que não precisar também.
Conquistá-la foi um grande desafio. Receber seu amor é um dos maiores presentes que já ganhei.